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    Fernando Rodrigues

    "Fantasmas do passado"

    14/05/2014 02h00

    BRASÍLIA - O eleitor vota quase sempre movido por dois sentimentos, o medo ou a esperança. Às vezes, a combinação de ambos.

    O PT colocou ontem no ar um comercial de um minuto nos intervalos das TVs abertas. Explora o discurso do medo. Pessoas são mostradas vendo a si próprias num passado recente quando não tinham acesso a emprego, escola, saúde e lazer. Ao fundo, uma música de apelo fúnebre.

    "Não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo que conseguimos com tanto esforço", diz o locutor. "Nosso emprego de hoje não pode voltar a ser o desemprego de ontem. Não podemos dar ouvidos a falsas promessas. O Brasil não quer voltar atrás".

    Em resumo, diz o PT, sem a reeleição de Dilma Rousseff virá o caos. A narrativa é clássica. Visa a inocular o pânico em quem teve alguma melhora de vida. A presidente necessita estancar a erosão em sua popularidade e assegurar o núcleo duro de seu eleitorado, na faixa de 30% a 35%. Desse rebanho não pode fugir nem mais uma ovelha. Daí a escolha do tom quase de velório do comercial veiculado ontem à noite.

    Vai funcionar? Difícil saber. João Santana, o marqueteiro dilmista, não usaria um filme sem testá-lo antes.

    Em eleições passadas, a estratégia do medo foi muito usada. Em 1998, o jingle de FHC falava de um "mundo turbulento" e de um Brasil que não podia parar. Parar com quem? Com Lula, que era o adversário. Deu certo.

    Em 2002, José Serra levou a atriz Regina Duarte à TV dizendo que estava com medo. Lula rebateu com o "a esperança vai vencer o medo". Deu PT. Em 2006 e 2010, os petistas jogaram com o medo do fim do Bolsa Família. Ganharam tudo.

    Agora é a vez de Dilma. A propaganda de ontem tem chuva cenográfica e uma imagem com textura de cinema. Parece um daqueles filmes bíblicos de Franco Zeffirelli. Talvez um pouco triste demais para quem também precisa vender esperança.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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