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    Fernando Rodrigues

    A antipolítica no ar

    17/05/2014 02h00

    BRASÍLIA - A adesão aos protestos da superquinta (15) foi baixa. Mas os efeitos causados foram semelhantes aos produzidos pelos atos de junho do ano passado. Ruas e estradas fechadas. Patrimônio público e privado depredado. Cidadãos com medo de sair de casa. E continua no ar aquele sentimento difuso de antipolítica.

    Há também uma certa atitude de "empoderamento" de grupos pequenos. Ontem, cerca de cem pessoas paralisaram por várias horas a rodovia Régis Bittencourt, que liga São Paulo a Curitiba. Eram moradores de bairros próximos pedindo a construção de uma passarela e retornos.

    Há algo bem errado quando cidadãos só conseguem impor seus direitos na marra. É enorme o descompasso entre a vida "da porta para dentro" (muitos têm eletrodomésticos, desfrutam do Bolsa Família e vivem melhor) e a selvageria "da porta para a fora" (ônibus imundos e lotados, insegurança, péssimos serviços de saúde e educação).

    Ontem, havia alívio no Palácio do Planalto. O "povo faltou aos protestos" e "o responsável pelo fechamento de estradas é o governador de cada Estado" eram frases ouvidas nos corredores do poder. É verdade. Mas nada consola quem fica parado numa rodovia ou ameaçado no centro da cidade durante um quebra-quebra.

    O governo é sempre visto como responsável. Seja prefeito, governador ou presidente. Esse é o ponto. As marchas não têm grande adesão popular, só que vão continuar a acontecer. As consequências serão sentidas nos grandes centros.

    O sentimento antipolítica continua inalterado. Os alvos são os governantes que buscam a reeleição, como Geraldo Alckmin (PSDB), no Estado de São Paulo, e Dilma Rousseff (PT), no Palácio do Planalto.

    Embora em tom soturno, quase lúgubre, a recente propaganda do PT na TV visa a manter firme o eleitorado ainda cativo de Dilma. No governo, todos acham que vai funcionar. Se vai mesmo, ninguém sabe.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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