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    Fernando Rodrigues

    Desalento na política

    21/06/2014 02h00

    BRASÍLIA - Dois dados nesta semana registram o desalento dos brasileiros com a política. De acordo com o Ibope, 26% dos eleitores não têm interesse na eleição de outubro. Outros 29% têm pouco interesse. Ou seja, mais da metade dos cidadãos vive em quase alienação completa a respeito do processo eleitoral.

    A outra informação é das repórteres Paula Ferreira e Thalita Pessoa: só 25% da população jovem de 16 a 17 anos têm hoje o título de eleitor para votar. Em 2010, o percentual era de 32%. Em 2006, de 39%.

    A explicação mais recorrente para tal desinteresse é a falência do sistema partidário, a corrupção endêmica na política e a desconexão dos governos da sociedade. Como se dizia muito nas jornadas de junho de 2013: "Vocês não me representam".

    Há, entretanto, um aspecto quase sempre esquecido. A Lei Eleitoral no Brasil é um entulho da ditadura. Fixa prazos rígidos para todas as atividades. O Brasil deve ser um dos únicos países do mundo no qual é proibido fazer um comício a qualquer tempo e época pedindo votos ou discutindo propostas. Seria crime eleitoral, mesmo que os envolvidos fossem de oposição e não tivessem cargos públicos.

    Já no atual período de democracia, o Congresso tornou o processo ainda mais opaco. Um brasileiro está proibido de fazer bonés ou camisetas com o nome de algum possível candidato. É crime. Como então participar da política? Só com hora marcada e de maneira muito engessada, quase às vésperas da eleição.

    Com tanta proibição, muitos desistem da política tradicional. É mais fácil virar "black bloc". Passou da hora de alguma entidade com poder para tal ir ao Supremo Tribunal Federal e arguir a inconstitucionalidade dessas regras cerceadoras da liberdade de expressão. Seria um teste para o STF e para a democracia.

    *

    Nos anos 80, tudo era culpa do FMI. Hoje, a culpa é da Fifa. O Brasil, é claro, está sempre certo (sic).

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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