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    Fernando Rodrigues

    O horário eleitoral é bom

    13/09/2014 02h00

    BRASÍLIA - O Brasil tem eleições a cada dois anos e nunca falha: basta começar a propaganda em rádio e TV para que se forme um senso comum contra o horário eleitoral.

    Muitos defendem acabar com os comerciais eleitorais neste período. Acho um erro pensar assim. Até porque o problema desse sistema é mais o conteúdo e menos o modelo.

    É claro que os comercias dos candidatos, em geral, são um lixo. Informam sobre quase nada. Os políticos se atacam mutuamente. Quem disputa a reeleição mostra na TV um mundo onírico. O céu é mais azul e os pobres estão sempre felizes.

    Mas acabar com o horário eleitoral não resolveria o problema. Numa democracia, os políticos têm de se comunicar com seus eleitores.

    Abrem-se então duas possibilidades. Manter o horário sendo pago com dinheiro público (as emissoras hoje são compensadas em grande parte pelo espaço cedido) ou criar um sistema no qual o candidato comprar seu tempo no rádio ou na TV.

    Nos EUA, os políticos pagam para ir à TV. É mais caro para a sociedade. O abuso do poder econômico impera.

    No Brasil, o tempo é dividido por meio de uma fórmula com base no tamanho da bancada de cada partido na Câmara. Aí está a anomalia na qual prosperam os políticos do aerotrem. Basta um deputado para ir à TV e ter seus candidatos convidados obrigatoriamente para debates. É um desserviço à democracia.

    O horário eleitoral é bom na sua concepção, pois democratiza o acesso à TV. Só fica ruim porque trata desiguais como iguais e não estimula o debate. Nanicos teriam de ter uma exposição de fato mínima. Os principais candidatos teriam de debater ao vivo, de maneira regular.

    Seria educativo assistir a confrontos apenas entre Dilma Rousseff e Marina Silva (e, vá lá, Aécio Neves), sem a intromissão dos sem voto. É curioso, embora compreensível, que ninguém ouse defender essa proposta em nenhuma campanha.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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