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    Fernando Rodrigues

    Ideias fora do lugar

    08/10/2014 02h00

    BRASÍLIA - Para cada problema complexo existe uma solução simples. Em geral, errada. Essa é a lógica por trás de uma ideia que tem sido muito propagada: acabar com a reeleição para cargos executivos (prefeitos, governadores e presidente da República).

    No início da campanha, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) defenderam a proposta. Em seguida, Marina Silva abraçou a ideia. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa fez defesa enfática da tese: "A reeleição funciona como a mãe de todas as corrupções".

    Aécio e Marina acham que a reeleição deve ser eliminada e todos os mandatos então seriam aumentados de quatro para cinco anos. Todas as eleições passariam a ser coincidentes ""de vereador a presidente da República.

    É curioso Marina "nova política" Silva estar de acordo com uma alteração que afastará os eleitores dos políticos. Isso mesmo. Hoje, os brasileiros votam a cada dois anos. Se vingar o que ela e Aécio sugerem, as eleições se darão apenas a cada cinco anos.

    No mais, há um senso comum (equivocado) sobre a reeleição ser sinônimo de uso da máquina estatal, com recondução automática do governante. A vida real é bem diferente. Primeiro, basta observar o calor pelo qual passa Dilma Rousseff para tentar ficar outros quatro anos no Palácio do Planalto.

    Há uma estatística contundente nos Estados. Desde 1998, quando a reeleição passou a ser possível, 77 governadores tentaram ficar no cargo para um segundo mandato (até 2010). Desses, só 50 tiveram sucesso. Ou seja, 35% dos que tentam a reeleição são rejeitados pela urnas.

    Tudo considerado, o fim da reeleição não redimirá a política. Pior. Acabar com esse instituto vai privar bons políticos –do PT, do PSDB ou de qualquer partido– de ficar mais um mandato quando estiverem fazendo uma administração correta.

    fernando rodrigues

    Escreveu até novembro de 2014

    Na Folha, foi editor de "Economia" (hoje "Mercado"), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006).

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