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    Flávio Ferreira

    Justiça privilegiada

    19/03/2016 02h00

    SÃO PAULO - No momento em que a maioria dos brasileiros celebra o juiz federal Sergio Moro como um salvador da pátria, mas muitos o pintam como um vilão, um olhar desapaixonado sobre a atuação do magistrado permite ver um sistema de trabalho que deveria ser um dos legados da Operação Lava Jato.

    Moro é um dos poucos juízes do Brasil que atuam nas varas federais especializadas em crimes financeiros, criadas em 2003 para cuidar desse tipo de delito, que em geral é mais complexo e envolve corrupção.

    A ideia de deixar parte dos magistrados da Justiça Federal concentrada nos crimes de "colarinho branco" só emplacou após o caso Banestado, que mostrou remessas de bilhões de dólares ao exterior, parte desse dinheiro desviado dos cofres públicos.

    Outra situação vivem os juízes criminais das Justiças estaduais, que trabalham como "clínicos gerais" e não encontram amparo estrutural para se dedicarem às causas específicas ligadas à corrupção.

    A título de exemplo, a ação penal do caso da cooperativa habitacional Bancoop, no qual dirigentes da entidade foram acusados de crimes financeiros e desvios em favor do PT, começou na Justiça Estadual paulista em 2010 e só agora está chegando à sua fase final na primeira instância.

    Já a Lava Jato, em trâmite perante uma das varas federais especializadas em Curitiba, completou dois anos nesta semana, com 17 ações penais concluídas no primeiro grau.

    No dia 14, quando decidiu remeter o pedido de prisão de Lula para Moro, a juíza estadual Maria Priscilla Oliveira ainda realizou audiências para ouvir 15 testemunhas de casos de roubo e tráfico de drogas.

    A corrupção não deve ser combatida por super-homens, mas por profissionais que encontram condições privilegiadas, no bom sentido, de trabalho. Se as varas especializadas em crimes financeiros chegaram à Justiça Federal após o caso Banestado, é hora de aproveitar a Lava Jato para levá-las às Justiças estaduais.

    Flávio Ferreira é repórter.

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