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    Francisco Daudt

    Homens e mulheres

    27/04/2016 02h00

    "Chassez la nature: elle reviendra au galop" ("expulse a natureza: ela voltará a galope"), dizem sabiamente os franceses. Mas quando se trata do ser humano as forças da natureza são habitualmente desprezadas: todas as ciências humanas creem que nós somos exclusivos frutos da cultura, que a genética passa ao largo de nossos comportamentos.

    Espinoza nos ensina que a liberdade consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam. Os da natureza são poderosos, portanto quero olhar como ela atua no assunto mais importante de nossas vidas: o sexo.

    Sexo é um método de reprodução estranho que implica várias estranhezas, a primeira dela em dois seres da mesma espécie que nem se parecem da mesma espécie, pois vivem se estranhando: macho e fêmea. É tão mais simples entre as bactérias... Elas se multiplicam sozinhas sem ter que negociar com ninguém, e são os seres mais antigos e bem-sucedidos do planeta.

    Nós não. Entre todas as espécies sexuadas que negociam para se reproduzir –os peixes não precisam–, a nossa é a de negociação mais complexa, de procriação mais frágil e complicada, de sobrevivência das crias mais exigente de cuidados que há. Em resumo, a biologia nos ferrou.

    Ela vem moldando o comportamento diferenciado de machos e fêmeas há milênios, e deixando esse comportamento gravado em nosso DNA. Vamos ver o que dizem os psicólogos evolucionistas, que estudam a influência da genética e da biologia em nosso comportamento, começando por alguns fatos básicos que separam os gêneros (sim, homens e mulheres são diferentes).

    Mulheres engravidam; homens não. Homens podem fugir depois de procriar; mulheres não. Bebês humanos são os mais carentes de assistência, e por mais tempo, entre todo o reino animal. O trabalho de criá-los é tão grande que nenhuma pessoa sozinha dá conta, por isso nossa espécie é das raras em que o macho investe na criação de seus filhos, mas isso é uma decisão dele, não é um imperativo biológico. A fertilidade das fêmeas é limitada na quantidade e no tempo; a dos machos, nem na quantidade, nem no tempo.

    Decorrências da biologia é que homens e mulheres têm interesses conflitantes: eles querem sexo com mulheres férteis e saudáveis, o que implica que elas sejam jovens e bonitas; elas querem homens capazes e saudáveis que as possam ajudar na criação dos filhos, e que estejam desejosos delas ao ponto de serem pais investidores.

    Resultado chocante: mulheres escolhem com quem se deitam; homens escolhem com quem se casam. O tesão do homem é visual e imediato; o da mulher passa pelas demonstrações de interesse que o homem dá: ela acha um homem "interessante"; se esse homem demonstrar desejo por ela, aí sim, o desejo dela se despertará.

    Já se viu que o assunto é longo e controverso, prossigo na próxima. Mas fica a resposta que os evolucionistas deram à célebre pergunta de Freud, "o que querem as mulheres?" Dizem eles: "casamento, garantias e prestígio".

    Para não sermos marionetes da natureza, para poder implementar desejos éticos que dela divirjam, é melhor ouvi-la.

    francisco daudt

    Escreveu até dezembro de 2017

    Psicanalista e médico, é autor de 'Onde Foi Que Eu Acertei?', entre outros livros.

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