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    Futebol na Rede - Humberto Luiz Peron

    Julinho: o esquecimento de um fora de série

    DE SÃO PAULO

    22/01/2013 15h06

    Não faz muito tempo, o futebol brasileiro produzia uma quantidade enorme de craques. Essa situação de termos, ao mesmo tempo, vários grandes jogadores da mesma posição atuando simultaneamente gerou várias injustiças. E, em razão dessa ampla concorrência, muitos foras de série caíram no esquecimento e raramente alguém se recorda de seus nomes ou os citam.

    Por isso, procuro não deixar de citar a figura de Julinho Botelho sempre que é lembrada a data de morte de Mané Garrincha - como no último dia 20. Garrincha foi um ponta-direita excepcional, mas Julinho também foi espetacular.

    Para quem não sabe, ele começou a carreira no Juventus no início da década de 1950 e brilhou na Portuguesa - quando o simpático time paulistano chegou a ter quatro jogadores na seleção. Dono de um vigor físico incomum para os jogadores da época, ele tinha uma grande arrancada para vencer os adversários na velocidade, além de contar com habilidade para driblar os laterais adversários em um curto espaço de campo. Para complementar, ainda tinha um chute muito forte.

    Com todos esses atributos, foi o melhor jogador do Brasil na Copa de 1954 - muitos o colocam no time ideal daquele Mundial, que teve o grande time da Hungria e foi vencido pela Alemanha. Seu desempenho com o despreparado time brasileiro nos gramados da Suíça foi tão primoroso que ele acabou indo para a Fiorentina, onde brilhou intensamente e virou ídolo em Florença.

    Em grande fase, seria titular do Brasil na Copa de 1958, mas recusou a convocação, pois julgava ser uma grande injustiça tirar a vaga de quem jogava aqui no Brasil, decisão que seria inimaginável nos dias de hoje, em que o jogador vai para o exterior para ter mais chances de ser convocado, e abriu vaga para que Garrincha estivesse na Copa da Suécia - o outro ponta-direita da seleção naquele Mundial foi Joel, que disputou as duas primeiras partidas na campanha e que foi titular do Brasil na maioria dos jogos em 1957 e 1958.

    Só um fora de série como Julinho poderia substituir com sobras o Anjo das Pernas Tortas. E Julinho conseguiu isso no dia 13 de maio de 1959, naquele que seria o primeiro jogo da seleção brasileira no Brasil após a conquista do título de 1958 no Maracanã.

    Julinho, já de volta ao futebol brasileiro, agora jogando no Palmeiras, clube pelo qual encerraria a carreira em meados dos anos 60, foi anunciado como ponta-direita titular no amistoso contra a Inglaterra, substituindo Garrincha. O anúncio da escalação fez com que o jogador recebesse a maior vaia da história do Maracanã - que só aumentou quando o ponteiro tropeçou nas escadas do vestiário quando entrava em campo.

    Não precisou mais do que 15 minutos para que Julinho mudasse a opinião dos mais de 100 mil torcedores presentes ao estádio e as vaias se transformassem em aplausos. Nesse curto espaço de tempo, ele fez um gol, deu passe para outro tento e parecia não se cansar de aplicar inúmeras fintas nos atordoados zagueiros britânicos. Saiu de campo ovacionado.

    Brilhando no Palmeiras, o ponteiro estaria na Copa de 1962, mas ele se machucou na preparação para o torneio e não conseguiu ser campeão do mundo.

    Julinho Botelho morreu em 2003, aos 73 anos, no bairro da Penha, em São Paulo, onde todos os domingos acompanhava partidas dos clubes de várzea da região.

    Bons tempos em que tínhamos Garrincha e podíamos deixar de lado craques como Julinho. Hoje, infelizmente, temos de aguentar alguns dizendo que um chinês perna de pau chamado Zizao é o craque da rodada.

    Até a próxima!

    Entre em campo: escreva nos comentários, abaixo, qual o grande jogador que você acha que foi esquecido.

    Mais pitacos em: @humbertoperon

    DESTAQUE

    O modelo dos torneios regionalizados, como a Copa do Nordeste, que este ano volta revitalizada, pode ser a solução para o início de temporada do futebol brasileiro. Assim, os clubes disputam torneios mais enxutos - e também mais rentáveis. Engana-se quem acha que esse tipo de competição mata os tradicionais torneios estaduais. Poderia ser criado um mecanismo em que os melhores dos torneios de cada estado consigam vaga no campeonato regional. Para quem não se lembra, o chamado "Pacto da Bola" definido no início do século previa isso, mas só tivemos a experiência em 2002, com os campeonatos regionalizados marcando o início da temporada.

    ERA PARA SER DESTAQUE

    O impecável estado do gramado do Engenhão neste início de temporada. Agora, espera-se que o excesso de jogos, principalmente nos primeiros de meses de 2013, não estrague novamente o campo.

    humberto luiz peron

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".

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