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    Futebol na Rede - Marcel Merguizo

    Desapego

    DE SÃO PAULO

    05/02/2013 14h50

    Sou um amante do futebol do passado. Gosto de passar horas lendo matérias velhas e conversando - talvez relembrando seja a palavra correta - sobre fatos antigos do esporte. Mas, apesar dessa admiração toda ao modo como o futebol era praticado, continuo achando inúmeros encantos nas partidas da atualidade.

    Por isso, me incomoda o fato de algumas pessoas ligadas ao futebol não conseguirem se desapegar de algumas receitas antigas.

    Todo clube, quando passa por um momento de baixa, parece implorar para que algo de um passado glorioso seja resgatado. Assim, os atuais dirigentes transformam em salvadores da pátria dirigentes que fizeram sucesso há 20 anos ou contratam técnicos que conquistaram um título importante dirigindo o clube.

    Também existe o caso de equipes que trazem jogadores em fim de carreira só por que já tiveram momentos gloriosos com a camisa do clube. Outros tentam usar o currículo vitorioso de um ex-jogador em cargos nos quais ele não tem experiência, como treinador ou dirigente remunerado, na esperança vã de que ele traga para fora dos gramados o sucesso que teve quando atuava.

    O pior é que esse apego acaba criando expressões que foram verdadeiras em algum momento, mas que não serão para sempre.

    Temos a famosa "craque se faz em casa", muito usada no Flamengo, graças à geração que revelou Zico e mais um punhado de craques nos anos 1970 e que levou o time da Gávea a ser o melhor do mundo. Toda vez que a equipe passa por momentos de crise, surge um rubro-negro que se lembra dessa frase e faz parecer que das categorias de base do time irão surgir sempre jogadores que vão tirar a equipe do buraco.

    Com essa expectativa, o clube, faz tempo, vem queimando várias revelações, e alguns desses atletas acabam fazendo sucesso em outros clubes. Lógico que descobrir bons jogadores é recompensador, mas querer que todo ano surjam das categorias de base cinco ou seis craques é um exagero.

    Quantos clubes já contratam jogadores pensando que pudessem ser o novo ídolo de um passado recente? O Santos e o futebol brasileiro perderam muitos anos enquanto corriam atrás de um sucessor para Pelé.

    Também há torcedores que pedem para que o clube faça uma limpa em seu elenco, como já fez em um determinado, e que acabou dando resultado. E outros que lembram que toda contratação cara feita pelo clube demora um longo período para engrenar e fazer sucesso.

    Não me conformo como ainda há aqueles que insistem em transformar exceções em regras.

    Quando um time está atrás na tabela, lembram que, em determinado torneio, um clube estava há dez pontos do líder quando faltavam cinco rodadas e conseguiu ser campeão. Ou aquele jogo em que o time perdia por 3 a 0 e conseguiu uma virada sensacional. Tudo bem que são fatos espetaculares, mas eles não acontecem toda semana e só nos lembramos deles porque eles surgem ocasionalmente.

    No futebol, como na vida, é preciso respeitar e entender o passado, mas também é preciso saber que as circunstâncias mudam e dificilmente as mesmas e ultrapassadas fórmulas levarão ao melhor resultado.

    Até a próxima!
    Mais pitacos em: @humbertoperon

    DESTAQUE

    Para os problemas que ocorreram nas reinaugurações do Castelão e do Mineirão, estádios ditos modernos e que serão utilizados na Copa das Confederações e no Mundial do próximo ano. Vão desde a dificuldade e a falta de orientação para o torcedor chegar ao campo à falta de comida e água nos sanitários. Que o excesso de percalços passados pelos torcedores de Ceará e Minas Gerais sirva de alerta para os administradores dos outros estádios que estão sendo construídos. Não custa lembrar que, para algumas instalações, que vão ser concluídas em cima da hora das competições, não vai haver tempo para a realização de eventos-teste.

    ERA PARA SER DESTAQUE

    Falando em desapego, é bom todos esquecermos que estaria no continente africano a esperança de podermos assistir um futebol ofensivo - e até irresponsável - de times procurando o gol a todo o momento e jogadores habilidosos, que não perdem a chance de fazer uma firula quando estão com a bola nos pés. A atual Copa da África mostra exatamente o contrário. Temos visto partidas sem emoção, truncadas e entradas violentas. Uma pena.

    humberto luiz peron

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".

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