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    Futebol na Rede

    Não nos cansamos de ser surpreendidos

    12/03/2013 15h40

    Na Copa do Mundo de 1938, os jogadores brasileiros foram surpreendidos por uma mudança na regra e passaram alguns apuros no momento de bater um simples tiro de meta. Explica-se: aqui no Brasil, os defensores davam uma "cavadinha" para o goleiro, que, então, despachava a bola para o ataque, enquanto que naquele mundial a reposição já era regulamentada como hoje.

    Já no Mundial de 1954, a nossa delegação não sabia que um empate contra a antiga Iugoslávia já servia para que o time passasse para a fase seguinte. Com o placar em 1 a 1, e mesmo com os sinais dos jogadores adversários de que a igualdade servia para as duas equipes, mas nosso time procurava o gol a todo instante. A partida terminou empatada, e os brasileiros, cabisbaixos, saíram de campo pensando que tivessem sido eliminados. Só logo depois do final da partida descobriram que continuavam na competição.

    Usei esses dois exemplos bem antigos para lembrar como naqueles tempos sofríamos com a falta de informação e conhecimento de regras. O que me surpreende é que, mesmo hoje, com o mundo globalizado e com a facilidade de descobrir coisas num simples clique na internet, ainda somos incapazes de nos antecipar a problemas que seriam fáceis de serem resolvidos.

    Acho extremamente correto o fato de o Corinthians e sua comissão técnica reclamarem da falta de bom senso na confecção da tabela do Campeonato Paulista, que programou cirurgicamente alguns clássicos antes de jogos da Libertadores e faz o time jogar no Estadual logo após desgastantes viagens. Mas é bom ressaltar que as tabelas do Estadual e do torneio continental já estavam prontas desde o ano passado e em nenhum momento ninguém do clube veio a público alertar sobre a situação. Os protestos e as declarações duras só surgiram depois da "surpresa" da maratona de jogos e viagens que o time teve de enfrentar na mesma semana.

    Já que estamos falando do Corinthians --e poderia ser de qualquer outro time--, a equipe também reclamou bastante de ter jogado num gramado de grama sintética contra o Tijuana. Embora já fosse do conhecimento de todos, desde o sorteio dos grupos da Libertadores, no final de dezembro do ano passado, que o time teria de atuar em um gramado sintético. A surpresa e as dificuldades de se jogar num terreno artificial seriam minimizadas se a equipe tivesse feito alguns treinos nesse tipo de piso.

    Ainda falando em surpresas, fica difícil acreditar que um presidente de clube --ou sua diretoria-- não soubesse que uma equipe oficial do clube jogasse torneios com a camisa de uma torcida organizada, como no caso do Palmeiras. O mais grave é que os jogadores saiam das dependências do clube vestindo o uniforme oficial, e a facção ainda pagava um cachê para o time. O pior é que o dirigente palmeirense foi surpreendido por esse fato horas depois de criticar a principal torcida do clube --ou seria melhor chamar de sua locatária-- pelos atos de vandalismo de alguns torcedores na sala de embarque de um aeroporto em Buenos Aires.

    O que também me choca na linha das "surpresas" é ver o pouco cuidado que os clubes têm quando fazem contratos com seus atletas. Invariavelmente, em momentos decisivos sempre algum clube precisa negociar a renovação do vínculo de algum jogador importante ou, quase no desespero, conseguir, com o clube dono dos direitos do atleta, uma prorrogação do empréstimo. Sem dizer, que em várias oportunidades, o time acaba contratando o profissional por um valor bem mais alto do que ele realmente vale.

    E os regulamentos de campeonatos, quantas surpresas ainda nos reservam. Toda temporada, temos, em alguma competição, discussões sobre os critérios usados apenas no momento que surge o problema. No Campeonato Brasileiro, por exemplo, desde que a Copa Sul-Americana começou dar uma vaga na Libertadores, depois do mês de agosto, com os torneios já em andamento, é preciso que a CBF defina quais serão normas de classificação para os campeonatos continentais do próximo ano.

    A próxima "surpresa" que vai aparecer e deixar todos boquiabertos e que, no próximo ano, a seleção brasileira não vai conseguir fazer muitos jogos preparatórios antes da Copa do Mundo. Ou seja, ninguém está percebendo que os amistosos até o final do ano e a disputa da Copa das Confederações são fundamentais para que Felipão defina a base da equipe para o Mundial, pois, em 2014, não haverá tempo para que ele faça experiências.

    No futebol, as "surpresas" só podem ocorrer dentro no gramado com um drible certeiro ou na parte tática. Quando acontecem fora das quatro linhas elas nos revelam a visão limitada de quem comanda o esporte mais importante do país.

    Até a próxima!
    Mais pitacos em: @humbertoperon

    DESTAQUE
    Para Botafogo e Internacional, que conquistaram o primeiro turno dos estaduais do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, respectivamente. Como esses clubes não estão disputando a Taça Libertadores, eles têm todas as condições --e também tranquilidade-- de vencerem o returno e ganharem essas competições antecipadamente, sem precisar disputar a final do torneio.

    ERA PARA SER DESTAQUE
    Duas semanas seguidas com clássicos sofríveis e sem emoção no Campeonato Paulista. Os jogos entre Corinthians e Santos e São Paulo e Palmeiras são um retrato da mediocridade do futebol que é jogado no nosso país. Por isso, infelizmente, as principais notícias do nosso futebol hoje são aquelas que acontecem longe dos gramados.

    humberto luiz peron

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".

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