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    Futebol na Rede

    Como alguns sobrevivem no mundo do futebol

    DE SÃO PAULO

    26/03/2013 15h28

    Fico espantado com a quantidade de profissionais ruins que contam com muito prestígio no nosso futebol. Já temos, dentro e fora das quatro linhas, um número grande de medíocres que ganham muito dinheiro e esses enganadores - eu sei que o termo é pesado, mas não encontrei nenhum que descreva melhor - sobrevivem graças ao mau momento que vivemos nos gramados e porque são craques em atuar em outras áreas. Entre elas, destaco:

    Na falta de recursos técnicos, usar a oratória
    Os defeitos de um profissional serão minimizados se ele tiver mais habilidade com as palavras, mesmo que seja para ele ficar falando de uma partida e de sua atuação por vários minutos seguidos sem explicar absolutamente nada. A consagração virá se o enganador conseguir discutir sobre três ou quatro temas fora do assunto futebol. Se o cidadão gostar de falar de rock (boleiros gostam de pagode, funk ou sertanejo), economia, política, cinema ou até filosofia, logo será tratado como "diferenciado" e ganhará o respeito de todos.

    Abusar da fama de bom-moço
    Chegar no horário, não faltar às concentrações, puxar a fila nos treinamentos e ficar um bom tempo sem cometer faltas violentas ou não ser expulso já se transformam em álibis perfeitos para algum deslize. O chavão "ele é um bom-moço e tem crédito" sempre acompanha quem consegue ter apenas seis meses de uma vida profissional exemplar.

    Brigar com quem não é uma ameaça
    Para ser considerado líder, só é preciso reclamar publicamente do companheiro novato e demonstrar sua insatisfação discutindo com aqueles jogadores que estão em baixa com a torcida.

    Só utilizar a expressão "errar é humano" quando a falha é dele mesmo
    Enganadores comentem muitos erros, mas têm uma habilidade monstruosa para diminuir o impacto dessas falhas. E usando frases como "errar é humano", "só erra quem assume a responsabilidade" ou "são coisas do futebol" conseguem o perdão de todos. Quando o equívoco é de um companheiro, a expressão usada é "perdemos numa falha individual", que acaba expondo, mesmo sem citar nome nenhum, o colega que foi responsável pela derrota.

    Amplificar seus pontos altos e minimizar seus fracassos
    Toda vez que são questionados por alguma falha, os medíocres adoram descrever algum momento seu de glória ou tentam traçar algum paralelo com a situação que eles tiveram sucesso e gostam de lembrar que são vitoriosos. Quando lembrados de algum baixo da carreira, a culpa sempre vai ser de outro. Quem nunca ouvir alguns profissionais dizerem algo como: "Aquele time de 1998 era bom, mas tinha problemas de relacionamento entre os jogadores e também a diretoria não ajudava. Aliás, não fui só eu que fracassei."?

    Estar sempre presente nos lances importantes do jogo
    Vivemos a era dos melhores momentos. É sempre conveniente que um jogador esteja por perto nos momentos mais importantes de um jogo. Portanto, é bom o atacante dar um carrinho naquele cruzamento rasteiro que não vai dar para chegar a tempo; o zagueiro fazer o movimento de tentar tirar a bola do atacante na hora do gol do adversário; e o goleiro saltar em todas as bolas, mesmo naqueles chutes que ele sabe que não tem a mínima chance de defender. Sempre irão surgir aqueles que vão dizer: "Apesar de todo o esforço, não foi possível ter sucesso no lance". Aqui também não se esqueça de ir festejar com o companheiro que fez o gol do time - vale até simular que está engraxando a chuteira do artilheiro.

    Até no futebol, hoje é mais importante parecer do que ser.

    Até a próxima!
    Mais pitacos: @humbertoperon

    DESTAQUE
    Já estamos chegando ao mês de abril, e os nossos principais times ainda estão devendo um bom futebol. A única exceção é o Atlético-MG, que vem mostrando um padrão de jogo definido em todas as partidas. Também poderia citar o Internacional e Botafogo, mas ambos só estão disputando campeonatos estaduais. Outras equipes consideradas grandes do país, como Corinthians, São Paulo, Grêmio e Fluminense, estão oscilando muito e são poucos os bons momentos desses times em 2013. Sem dizer aqueles que parecem que não vão conseguir se acertar neste ano, como Flamengo, Vasco e Palmeiras.

    ERA PARA SER DESTAQUE
    Decepcionante as atuações da seleção nos amistosos contra Itália e Rússia. Esses jogos só demonstram como o Brasil, apesar de toda a tradição, está longe do grupo das melhores seleções do planeta. Temos uma safra de jogadores medianos, que são bons no papel de coadjuvantes, e pela primeira vez na nossa história não contamos um único jogador com a camisa da seleção que possa decidir uma partida em um lance individual.

    humberto luiz peron

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".

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