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    Futebol na Rede

    Copiadores de má qualidade e apitadores de coletivos

    DE SÃO PAULO

    02/04/2013 14h01

    Fico espantado com a incapacidade de nossos treinadores. São poucos os que conseguem dar um padrão tático a uma equipe e que têm aptidão para observar o que realmente está acontecendo no gramado. Em geral, eles são tão incompetentes que fazem as equipes atuarem bem abaixo do padrão de qualidade técnica de seus comandados.

    Estamos tão acostumados com a mediocridade dos treinadores que não protestamos contra - alguns até aplaudem -os clubes que pagam uma fortuna para um profissional que tenha como característica ser "linha dura" e ter fama de disciplinador.

    Agora, com a escassez de bons jogadores jogando aqui, no Brasil, seria o momento de os treinadores exibirem seus conhecimentos. Mas, atualmente, a única tentativa deles para se mostrarem modernos e antenados é utilizar o esquema 4-3-3.

    Agora, a moda é copiar esse esquema, que alguns dizem ser uma tendência usada nos principais times da Europa. Porém, com a mentalidade retranqueira dos técnicos, mais um esquema interessante e ofensivo que se torna um esquema preocupado com a defesa. O que deveria ser um 4-3-3, aqui no Brasil, se transforma em 4-5-1 ou, o que é pior, em 4-1-4-1.

    Aliás, copiar de maneira errada sistemas de jogos é uma prática antiga dos treinadores brasileiros. No final da década de 1980, muitos deles importaram o 3-5-2 e adaptaram o esquema com três zagueiros da pior maneira possível.

    O que muito se utilizou por aqui foi o 5-3-2, pois os "professores" escalavam os alas com a função dos laterais tradicionais e não como meio-campistas. Com os alas atuando na mesma linha dos três zagueiros, o time ficava fragilizado no meio-campo - três jogadores contra quatro ou cinco adversários - e encontrava sérias dificuldades de retomar a bola ou, o que é pior, não conseguia atacar com mais de cinco jogadores. Para piorar, os treinadores adoravam escalar dois ou três volantes, sempre jogando perto dos zagueiros, o que piorava ainda mais a situação.

    Voltando à cópia de má qualidade atual. O princípio para que o 4-3-3 funcione é que um time seja treinado para jogar de maneira compacta, com todos os setores muito próximos, o que não se vê no Brasil. Os quatro jogadores mais ofensivos - o meia e os três avantes - sempre estão muito longe um do outro. O centroavante, coitado, pouco consegue tocar na bola.

    Pode não parecer, mas o esquema para dar certo é preciso uma grande movimentação de todo o time. Aqui, os dois atacantes que jogam pelos lados do campo, jogam sempre aberto e não se deslocam nunca. Quando recebem a bola são sempre obrigados a tentar um drible sobre o marcador, para tentar encontrar um companheiro para tentar o passe.

    Com a falta de preparo dos treinadores, vamos perder uma série de jogadores talentosos, que vão ficar presos apenas na faixa lateral do gramado e vão ser obrigados a marcar os avanços dos laterais adversários.

    Com dois atacantes sempre fixos nos lados do campo, além de ter sua movimentação limitada - o que facilita a marcação do adversário -, o time fica sem poder contar com o avanço dos laterais, pois não há espaço para isso. Eles não conseguem chegar à linha de fundo, pois são "marcados" pelo seu companheiro, que joga pelo lado do campo.

    Também o que os treinadores chamam de 4-3-3 não tem como funcionar com o excesso de volantes que os técnicos continuam insistindo em escalar. Fica difícil exigir que um time escalado com um quarteto de jogadores que só sabem marcar, consiga armar uma jogada ou realize jogadas pelos lados do campo.

    O momento do futebol brasileiro exige que tenhamos treinadores que conheçam o básico do esporte e não apenas copiadores de má qualidade ou simples apitadores de coletivos.

    Até a próxima!
    Mais pitacos em: @humbertoperon

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    humberto luiz peron

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".

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