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    Futebol na Rede

    Mudança de comportamento

    16/04/2013 13h53

    Nos últimos anos, o comportamento de quem assiste a jogos de futebol se transformou. Não faz muito tempo, os torcedores que iam aos estádios, por exemplo, esperavam ver um espetáculo.

    A primeira vez que eu fui a um estádio foi em 1972, tinha quatro para cinco anos. Mais do que estar naquela imensidão de lugar e o empate de 1 a 1, com o time adversário tendo de chutar quatro vezes um pênalti para conseguir fazer o gol, o que me impressionou foi a atitude de um torcedor - um senhor trajando terno e chapéu. Depois de dois chutões para cima, um de cada lado, ele proferiu apenas uma frase: "Isso não é futebol!". Logo em seguida, ele se levantou e foi embora, com a partida ainda começando. Não foi encenação, não, e ele não mudou apenas de lugar, pois eu acompanhei sua saída do estádio, em passos acelerados e claramente decepcionado.

    Um chutão para a linha lateral, sem que o time estivesse sendo ameaçado, já era motivo de descontentamento, e toda a arquibancada já chamava o profissional de "grosso" - o torcedor mudou mesmo, pois faz muito tempo que não ouço ninguém usando esse termo.

    Era comum os fãs venerarem os jogadores como a grandes artistas, pois aqueles 11 atletas uniformizados faziam com a bola nos pés o que ninguém que estava assistindo ao jogo era capaz de fazer. Eles exigiam que os jogadores tivessem técnica apurada. Os torcedores adoravam quando o ídolo tentava um drible diferente ou o time cadenciasse o ritmo de jogo tocando a bola de pé em pé.

    Qualquer lance em que o jogador mostrasse uma categoria fora do comum sempre gerava aplausos, ou gritos como se fosse um gol. O gosto pelo futebol bem jogado era tanto que o torcedor invariavelmente se curvava ao talento de algum jogador adversário. Mesmo uma boa jogada do camisa 10 do adversário já era motivo de admiração e respeito.

    Hoje, quem acompanha uma partida de futebol exige que o jogador se comporte como se fosse um torcedor. Então, o público delira quando um atleta corre muito dentro das quatro linhas, mesmo que isso não leve a nada.

    Como o fã quer que o profissional seja sua imagem e semelhança, ele adora quando o jogador de seu time trata qualquer adversário como inimigo. Quanto mais um atleta encarar, provocar ou acertar o rival, mais ele será ovacionado.

    Acho engraçado quando a torcida pede garra ao time quando ele está perdendo. Ela deveria implorar que a equipe melhorasse tecnicamente. Parece que mostrar excesso de vontade é a única coisa necessária para que se resolvam todos os seus problemas - o que está muito longe de ser verdade.

    Também nunca se aplaudiu tanto carrinhos, chutões para laterais e jogadores que se jogam em bolas que já estão fora do campo. O jogador técnico é tratado como ultrapassado, sem vontade, sem alma, que não sente a partida, ou aquele que faz o time perder velocidade ao tentar tocar a bola rasteira ou ousar dar um drible.

    O comportamento dos torcedores mudou. Não faz muito tempo, o torcedor descobria a magia do futebol antes de escolher um time para torcer. Atualmente, para o fã o que acontece no gramado pouco importa, desde que o seu time favorito vença.

    Até a próxima!

    Mais pitacos em: @humbertoperon

    DESTAQUE
    Para o crescimento do Palmeiras, que emendou cinco vitórias seguidas depois de sofrer uma goleada do Mirassol. Atribuir o bom momento do time apenas à vontade que os jogadores demonstraram nas últimas partidas é uma análise simplista. Não se pode esquecer que o time está bem postado taticamente, acertou um sistema de marcação - que pressiona o adversário - e também melhorou muito fisicamente, apesar de alguns problemas de contusão, o que permite que o time possa jogar no limite durante os 90 minutos.

    ERA PARA SER DESTAQUE
    Infelizmente, a organização de um evento esportivo é muito mais do que apenas entregar estádios modernos. Não adianta erguer construções monumentais se não existem vias de acesso a elas, segurança e que os serviços básicos, como restaurantes e banheiros funcionando. Os testes nos locais onde teremos jogos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo mostram o quanto é preciso evoluir para essas competições. Resta saber se ainda há tempo para isso.

    humberto luiz peron

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".

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