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    Futebol na Rede

    A prioridade é ganhar tudo

    08/08/2013 12h58

    No futebol brasileiro, infelizmente, foi criada a cultura que costumo chamar de "quanto menos, melhor", em que é aceito, com toda a naturalidade, que um time, depois de fazer um gol, fique o tempo todo na defesa, tentando segurar a vantagem mínima. Outro exemplo acontece em partidas de mata-mata, quando a ideia de entrar em campo já pensando em perder de pouco na casa do adversário, para reverter a vantagem jogando em casa é tida como normalíssima.

    Dentro desse cenário, usa-se a palavra "prioridade" para justificar a dedicação exclusiva de um time a apenas uma competição.

    Nos últimos anos, quando um clube brasileiro vence a Copa Libertadores, como agora, com o Atlético-MG, ele se acha no direito de tirar férias no segundo semestre, apenas esperando o Mundial no final de ano e deixando de lado o Campeonato Brasileiro - o mesmo aconteceu com Corinthians, Santos e Internacional.

    Aliás, dentro dessa fixação do que se diz "prioridade", em muito pouco tempo, muitos vão começar a acreditar que a conquista de uma vaga no principal torneio continental vale muito mais que o próprio Nacional. Tanto que, hoje, quando se comenta a classificação, fala-se muito mais que um time almeja chegar ao chamado "G-4" - grupo de times que se classificaram para a próxima Libertadores - do que na briga pela liderança.

    Nos próximos meses, com a disputa simultânea das finais da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana com o Campeonato Brasileiro, muitos clubes devem abandonar o torneio nacional para dar prioridade para as competições de "mata-mata", que para muitos aparecem como o caminho mais fácil para se chegar à Libertadores.

    Para não ficar nenhum mal-entendido, quando eu falo de prioridade, não se trata de um clube poupar alguns jogadores antes de uma decisão - isso é até compreensível e estratégico. O que eu questiono é um clube, principalmente os de tradição, entrar em um torneio apenas para cumprir tabela e sem nenhum interesse em ganhá-lo.

    Em uma época em que é sempre usado termos como "profissionalização" e "exposição da marca" é fundamental que um time entre em qualquer campeonato pensando apenas no título. E que todos cobrem que o time busque o máximo do desempenho em toda a temporada.

    Não há razão para um clube gastar milhões de reais no ano para que ele se dedique ao máximo em apenas 20 jogos durante a temporada em que joga quase 80 partidas. Sem dizer que, quando um favorito deixa de lado qualquer competição, ele acaba influenciando no torneio, pois, em algumas partidas, por algum interesse, ele joga com o time completo - ou só com reservas - o que muda a distribuição lógica de pontos.

    Quando um dirigente diz que a prioridade do clube é apenas ganhar um torneio, ele dá passe-livre para que os jogadores não se concentrem totalmente em todas as partidas. Por isso, se o clube não conseguir ganhar a competição em que tinha como principal objetivo, ele vai sofrer durante todo o resto da temporada, pois não vai conseguir tirar o máximo de um elenco que ouviu que algumas competições pouco valiam.

    Também é provado que um clube quando chega ao máximo e depois entra "em férias" no meio de uma competição, dificilmente consegue, com os mesmos atletas, chegar ao seu melhor nível técnico e físico. Sem dizer do perigo de uma sequência de maus resultados que pode criar uma crise muito maior que qualquer euforia que a conquista de um título.

    A prioridade de um clube de futebol deveria ser sempre vencer tudo que ele disputa. Um grande clube é aquele que consegue o máximo de títulos em um curto espaço de tempo e não aquele que se contenta apenas uma única volta olímpica.

    Até a próxima!
    Mais pitacos em: @humbertoperon

    DESTAQUE
    O bate-boca entre Rogério Ceni e o ex-técnico do São Paulo Ney Franco. A troca de farpas só mostra por que o time fracassou no primeiro semestre e vive um mau momento agora, pois o elenco de jogadores ficou dividido e a prepotente direção do clube não tomou nenhuma medida para melhorar a situação. Na discussão, se Rogério Ceni, até pela história do clube, se envolveu em áreas que não deveria, caberia ao comandante, no caso Ney Franco, tomar as devidas providências, inclusive a de afastar o goleiro do time enquanto estava no comando do time. Falar agora não adianta nada.

    ERA PARA SER DESTAQUE
    O Chapecoense, que faz uma campanha excelente na Série B. O time catarinense consegue manter o mesmo desempenho do início do torneio, inclusive ganhando partidas importantes fora de casa, e tem tudo para conseguir o acesso para a Série A do Brasileiro em 2014

    humberto luiz peron

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".

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