• Colunistas

    Sunday, 28-Apr-2024 23:57:32 -03
    Futebol na Rede

    "Patinhos feios" existirão por um bom tempo

    DE SÃO PAULO

    18/09/2013 13h29

    O título desta coluna é uma referência à matéria (http://folha.com/no1343475) que abriu o caderno de Esporte da Folha nesta quarta-feira (18/9) e que apresentava o jogo entre o líder do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro, e o vice, o Botafogo.

    O desempenho desses times no Brasileiro, tão distantes em faturamento se comparados aos seus concorrentes - os mineiros faturam 120,4 milhões de reais, o Botafogo, 122,8 milhões de reais, enquanto, por exemplo, o Corinthians embolsa 358,5 milhões de reais, como citado na própria matéria -, mostra que ainda estamos longe da previsão de alguns, inclusive da minha - confira "Real Corinthians e Flarcelona" (http://folha.com/no892491) -, que com a recente negociação dos direitos de transmissão pela TV, corríamos o risco de ver a disputa dos principais campeonatos aqui no Brasil ser reduzida a apenas dois times. Pois haveria um abismo enorme de arrecadação entre essas duas equipes e os demais clubes do futebol brasileiro.

    Um dos motivos para que esse duopólio de Corinthians e Flamengo não aconteça em um curto espaço de tempo está no fato de que não temos grandes jogadores no mercado brasileiro para contratar. Portanto a diferença de custo dos direitos dos atletas é baseada muito mais na fama, na história ou em bom momento, do que no aspecto técnico. Atualmente, qualquer jogador tem seu preço muito elevado, inclusive os medianos.

    Por mais que se tenha dinheiro, não há como sair às compras e se fazer um esquadrão, como aconteceu com o Palmeiras, na década de 1990, que, com os cofres cheios, após fechar uma parceria com a Parmalat, formou uma autêntica seleção brasileira em poucos meses.

    Ainda há a concorrência do futebol do exterior, que, se antes só comprava os nossos craques, hoje também os estrangeiros levam nossas promessas e jogadores de segundo escalão, reduzindo ainda mais as opções de contratação para os nossos clubes.

    É preciso lembrar que, para os "endinheirados", qualquer jogador sempre vai sair bem mais caro. Não tenho dúvida de que um atleta - ou seus empresários - pede muito mais para acertar com o Corinthians e o Flamengo do que com qualquer outro clube. Soma-se a isso a incompetência dos dirigentes, que, mais abonados, adoram contratar jogadores caros e pagar altos salários para satisfazer os torcedores e atiçar parte da imprensa.

    Na realidade de nosso futebol, com clubes que mal conseguem pagar o salário dos atletas, como acontece com o Botafogo no momento, a diferença monetária também é compensada porque os times que mais arrecadam dificilmente conseguem revelar bons jogadores. Até porque, como eles têm dinheiro de sobra, preferem contratar no lugar de dar oportunidade para um jovem talento. Podemos até discutir esse modelo, mas não devemos ignorar que a venda de jogadores ainda é uma das principais receitas dos clubes.

    Também há um aspecto importante que precisa ser dito: o salto de arrecadação dos direitos de TV teve um impacto maior para times que tinham orçamentos menores, que, mesmo antes do incremento de dinheiro da televisão, já tinham saído na frente em busca de aumentar suas receitas. Um bom exemplo é o programa de sócio-torcedor do Internacional.

    Sem dizer que, por incrível que possa parecer, os clubes que faturam mais têm gastos enormes no pagamento de dívidas, como no caso do Flamengo, que a cada ano destina boa parte de sua arrecadação para quitar pendências financeiras.

    Ainda há três fatores que devem ser considerados e que evitarão que a disputa de nossos torneios fique restrita a apenas dois ou três times: a tradição, a popularidade e a rivalidade que existe entre os principais clubes do país. Por mais que exista diferença grandiosa na qualidade dos elencos, nunca se pode afirmar que se tenha um favorito num grande clássico. Aliás, em alguns deles, é tradição vencer o time que está em pior momento.

    Enquanto os clubes que arrecadam menos não caírem no erro e na tentação de gastar mal seu dinheiro, como fazem times com orçamentos gigantescos, o equilíbrio do nosso futebol estará garantido, assim como os "patinhos feios".

    Até a próxima!

    Mais pitacos em: @humbertoperon

    DESTAQUE
    Caso o líder Cruzeiro consiga uma sequência de resultados contra Botafogo, Corinthians e Internacional, ele vai ficar muito próximo de conquistar o título do Campeonato Brasileiro, pois abrirá uma distância considerável de pontos para os demais concorrentes. Aí devem surgir as viúvas do "mata-mata" dizendo que é um absurdo que um torneio possa ser decidido com antecedência. Prefiro muito mais que um campeonato seja definido precocemente e vencido pelo melhor time a um torneio em que o oitavo colocado tenha as mesmas chances de título que o líder absoluto da competição.

    ERA PARA SER DESTAQUE
    Muito se fala da queda de rendimento do Corinthians em 2012. Para mim, mais do que a acomodação do elenco que ganhou tudo nos últimos anos ou o desgaste de relacionamento entre o técnico Tite e os jogadores, o motivo da baixa produção da equipe está no fato de que ela perdeu seu principal e fundamental elemento, o volante Paulinho. Com sua ausência, o time perdeu quem decidia as partidas quando os homens da frente estavam marcados e ficou vulnerável na defesa, já que o volante também é muito bom na marcação e fazia muitos desarmes.

    humberto luiz peron

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024