• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 17:46:51 -03
    Futebol na Rede

    E os méritos do vencedor?

    DE SÃO PAULO

    01/10/2013 13h52

    Fico impressionado como aqui no Brasil, quando você lê a análise de qualquer partida, só vê comentários da equipe que perdeu. Parece que o vencedor não teve nenhum mérito no triunfo. É triste perceber que o brasileiro prefere seguir a linha da prepotência a dar créditos por merecimento. Por isso, aqui, nunca um time é derrotado, mas, sim, ele deixa de ganhar. Em muitas oportunidades, a equipe vencida é tão analisada e comentada que, por mais que ela tenha tomado uma impiedosa goleada, nos deixa a impressão de que o resultado final da partida foi uma tremenda injustiça.

    Uma partida de futebol precisa ser vista como a soma de vários fatores, e, por isso, quando é analisado apenas sob um aspecto específico, acaba sendo gerada uma distorção muito grande do que aconteceu nos 90 minutos. É o que acontece quando nos baseamos somente nos números finais da estatística apresentados numa planilha.

    Embora ache esse levantamento estatístico fundamental no futebol atualmente, penso que ele é muito mal utilizado, interpretado e serve para justificar algumas derrotas.

    Virou obsessão, por exemplo, depois do surgimento do grande time do Barcelona, nos últimos anos, monitorar a posse de bola do time em uma partida. Aliás, na recente vitória do time catalão, por 4 a 0, sobre o Rayo Vallecano, parecia que o Barcelona tinha passado pelo maior vexame de sua história, pois, pela primeira vez em cinco anos, ficou com menos posse de bola que seu adversário - 49%, ante os 51% do Rayo Vallecano.

    Concordo que, com a bola nos pés, um time não toma gol e desgasta fisicamente o adversário, mas o fato de um time ter a posse da bola não significa que ele tem o amplo controle da partida e que está dominando inteiramente o adversário.

    Aqui, no Brasil, a equipe que fica com a posse de bola troca muitos passes na defesa e não consegue evoluir. Portanto, não significa absolutamente nada uma equipe ter 75% de posse de bola se ela não consegue furar o bloqueio ou chegar perto da área do adversário.

    Além da posse de bola, usa-se muito o critério de chutes a gol para justificar que um time merecia ter mais sorte em uma partida em que foi derrotado. Realmente é impressionante constatar que um time perdeu um jogo mesmo dando 20 disparos contra o gol, enquanto o vencedor da peleja chutou apenas cinco vezes. Mas ninguém detalha qual era realmente a posição do finalizador, quantos chutes levaram, de fato, perigo ao goleiro ou exigiram que o esse fizesse uma grande defesa.

    Saindo dos números, também é preciso citar as várias conspirações que são encontradas para justificar uma derrota. Aí, o repertório é muito grande, apesar de repetitivo. Há sempre espaço para uma declaração que poderia ter motivado o adversário, uma súbita crise de relacionamento entre o elenco e a diretoria que causa a má vontade dos jogadores no gramado, problemas de salários e uma parte do elenco que insiste em querer derrubar o treinador.

    Também aqui não poderiam faltar as citações aos erros de arbitragem, situação do gramado e a de que o time derrotado sempre teve um lance que poderia ter mudado o destino do jogo - e aqui não importa se a equipe já estava perdendo por três gols de diferença e só faltavam dois minutos para o término da partida.

    Precisamos lembrar sempre dos méritos de um time vencedor em uma partida de futebol, mesmo que ele tenha "apenas" aproveitado as deficiências do adversário.

    Até a próxima!
    Mais pitacos em: @humbertoperon

    DESTAQUE
    Deve se apoiado o movimento dos jogadores que pedem a melhoria do calendário do futebol brasileiro. Finalmente os atletas perceberam que eles, como protagonistas do espetáculo, precisam se manifestar e participar ativamente da organização de nosso futebol. Além da redução do número de partidas na temporada, vejo o pedido do aumento da pré-temporada como o ponto alto da pauta das reivindicações. Não parece, mas o baixo rendimento físico de algumas equipes atualmente - como no caso do São Paulo - está ligado à falta de treinamentos adequados no início do ano.

    ERA PARA SER DESTAQUE
    Para Palmeiras e Corinthians, que continuam sofrendo em consequência do comportamento de suas torcidas organizadas. Mais uma vez, os dois times vão ser obrigados a jogar longe de São Paulo por problemas causados por alguns de seus torcedores. Na reta final da Série B, perto de carimbar o acesso, o Palmeiras vai ficar distante de sua torcida. Já o Corinthians, depois que a sua torcida atingiu uma garrafa em um auxiliar na partida contra a Portuguesa, pode ficar sem jogar na capital paulistana até o final do ano.

    humberto luiz peron

    Escreveu até dezembro de 2013

    É jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024