O personagem é insignificante. Mas a reação a ele não é nada insignificante.
Reportagem da revista "Veja São Paulo" mostrou o "Rei do Camarote" --um indivíduo, que se diz empresário, para quem o valor máximo na vida é torrar dinheiro, muito dinheiro, em camarotes das baladas.
Seu objetivo é, como diz, "agregar" valor ao camarote, com champanhe cara, celebridades e mulheres vistosas.
Foi assunto que mais movimentou a internet, em meio ao deboche generalizado sobre esse símbolo de futilidade explícita. A resposta ao deboche involuntário do "Rei do Camarote" foi o deboche voluntário.
A desigualdade e a futilidade não são obviamente novas em parte da elite brasileira -está aí o exemplo mais recente de Eike Batista, com seu carro decorando a sala de estar.
O que é novo é a redução da tolerância para esse tipo de personagem e atitude, que desrespeita, na sua ostentação, uma nação que vai cada vez mais para as ruas para denunciar e exigir melhor condição de vida, das escolas, passando pelos postos de saúde, até o transporte público.
A qualidade do serviço público, a começar da educação, aliás, mostra como somos um país do camarote, onde tantos têm tão pouco e poucos têm tanto.
Há um cansaço crescente com o camarote dos idiotas, que se imaginam (e assim são tratados) como celebridades.
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Para compensar: a Rede Nossa São Paulo está escolhendo, em votação abertas, as pessoas que fazem a diferença na cidade de São Paulo e são motivo não de deboche, mas de inspiração. Veja a lista
Ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.