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    Gregorio Duvivier

    WhatsApp: modo de usar

    02/05/2016 02h02

    Peço permissão para me revoltar com um tema aparentemente mais frívolo do que a política nacional, mas não menos urgente: o WhatsApp.

    Primeiro inventa-se o produto, depois o manual. Quando surgiu a vuvuzela, por exemplo, parecia uma ótima ideia soprar uma corneta pelas ruas. Demoramos algum tempo até entendermos a real utilidade de um invento. No caso da vuvuzela, era nenhuma.

    Uma pesquisa revelou que o brasileiro passa em média 47 minutos no famigerado Whats. Não adianta procurar essa pesquisa, fui eu mesmo que fiz. Nos meus grupos de Whats.

    Tem o grupo grande do trabalho que só fala de trabalho. Tem o grupo menor do trabalho que só fala de beber –além de falar mal do grupo grande do trabalho. Tem o grupo da família que só compartilha vídeos de bebês e memes políticos de veracidade duvidosa. Tem o grupo dos meninos da escola que só mandam pornô escatológico. Nove a cada dez usuários do WhatsApp já mandaram um pornô escatológico no grupo da família ou um nude no grupo do trabalho.

    Uma medida urgente que vai salvar sua vida: "Grupo do trabalho" e "grupo da escola" são perigosamente parecidos. Sugiro rebatizar o grupo da escola de PORNÔ ESCATOLÓGICO em letras garrafais. "Ah, mas aí o nome do grupo vai ficar pipocando na frente de todo o mundo." O que nos leva à segunda medida urgente: tire a pré-visualização na tela bloqueada. Eu posso estar salvando sua vida.

    O áudio tornou-se um problema do tamanho da vuvuzela. O que era pra ser uma ferramenta excepcional ("tô com as mãos ocupadas, tô dirigindo, tô cozinhando, meus dedos foram decepados") acabou se tornando um esporte. Todo dia recebo uns 12 áudios de três minutos em que uns dois minutos e meio são de "ééé", "entãããão", "só um instante". E não consigo fazer uma leitura diagonal de um áudio. É preciso ouvir tudo, até o final, pra descobrir que não era nada.

    "E aí, brother, tudo bem, ééé, entãããão, tô precisando que você, ééé, só um instante, deixa eu só ver aqui um negócio, pronto, éééé, rapidão, pronto, na real não precisa mais não, já resolvi aqui." Cancela o áudio, brother! É só deslizar o dedo pra esquerda. A vida é muito curta pra perder tempo com áudio errado.

    Pela mesma razão, não faz sentido falar só "você tá aí?". Não precisa checar. WhatsApp não é ICQ. Fala logo. Todo grupo de família é uma profusão de "bom dia". A vida é muito curta pra dar bom dia no WhatsApp.

    gregorio duvivier

    É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos. Escreve às segundas.

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