REPÓRTER - General, o senhor acaba de ser indicado pelo presidente interino para presidir a Comissão da Verdade, que investiga os crimes contra os direitos humanos ocorridos na ditadura. Como foi que isso aconteceu?
GENERAL - O pessoal sabe que tenho muito interesse por essa época. Foi um período nebuloso. Teve muita gente desaparecida! O General Costa Neto, por exemplo, nunca mais me ligou. E a saudade, ó! Gigante.
REPÓRTER - Não sei se entendi. Você lembra com alegria dessa época?
GENERAL - Alegria, com certeza não. Quando abrir esses arquivos vai ter muito chororô! Até porque o nosso país só fez desandar. O coração vai apertar, com certeza. Só de falar nisso já tô todo arrepiado.
REPÓRTER - Mas o objetivo dessa comissão não é investigar os crimes ocorridos nessa época?
GENERAL - Exato. Bom lembrar que teve crimes. Muito terrorismo e muita subversão. E muita gente sumiu sem deixar rastro. O objetivo é encontrar esse pessoal e terminar o serviço.
REPÓRTER - Mas isso não é crime?
GENERAL - Isso, conspirar contra o país para operar um golpe comunista é crime sim.
REPÓRTER - Mas não pretende investigar os torturadores?
GENERAL - Claro que pretendo. Cometemos muitos erros. No Brasil foram centenas de mortes. Mas no Chile foram 40 mil. Onde foi que a gente errou? Que serviço de porco foi esse que tem um monte de gente que escapou? O Brasil precisa fazer um mea-culpa em relação à ditadura. Se a gente tivesse feito o serviço direito, não tinha ficado essa bagunça toda.
REPÓRTER - O senhor pretende investigar a corrupção do período?
GENERAL - Que corrupção?
REPÓRTER - O senhor sabe que nunca se roubou tanto quanto nesse período em que...
General tira um caderno.
GENERAL - Qual o seu nome, querido?
Silêncio. REPÓRTER olha para a câmera.
REPÓRTER - É com você, Carlos.
É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos. Escreve às segundas.