• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 20:32:06 -03
    Gregorio Duvivier

    Nadador vacilão tenta mandar caô, mas sequela dos X9

    22/08/2016 02h00

    Catarina Bessel/Editoria de Arte/Folhapress
    Ilustração Gregorio Duvivier de 22.ago.2016

    Caro gringo: ao contrário do que dizem os anúncios espalhados pelo Rio, não confie no Google Translate. Vamos supor que um sujeito armado pergunte se você é um vacilão. O Google traduzirá para "hesitante". Você dirá que sim. Sua vida corre perigo, gringo. Há mais coisas entre a Restinga e São Gonçalo do que pressupõe o seu vão Google Translate.

    O vacilão é um pela-saco, aquele com quem não se pode contar pois seu proceder mais típico é a vacilação —que aqui adota o sentido não de hesitação, mas de falha de caráter ou de atenção. Não queira ser um vacilão. Pode dar caô.

    "Caô" (cah-oh), por exemplo, talvez seja a palavra mais dita nesta cidade -e nem sequer figura na ferramenta, que acha que você escreveu errado a palavra cão. "Caô" quer dizer "mentira", assim como "zoeira", "sacanagem" ou "brinqs", embora na frase "ontem deu um caô brabo", "caô" equivalha ao paulista "treta", isto é, "estresse", enquanto na frase "para de caô", signifique "frescura".

    No entanto, a medalha de ouro de maior elasticidade semântica vai para a palavra "foda". Um show excelente é um "show foda", mas pode se dizer de um doente terminal que a situação dele "tá foda", e pode-se, durante um silêncio constrangedor, respirar fundo e dizer "é foda". Se a pessoa perguntar "o quê?", responda "isso tudo". Ela vai entender.

    Na frase "vamo fumar um", "um" significa maconha. Na frase "dar um dois", "dois" também significa maconha. "Baseado" é um cigarro de maconha, assim como "beque", "bagulho", "beise" e "ret" —corruptela do francês "cigarette". Chamamos de "bagana" a guimba do beque. "Perna-de-grilo" é o famoso finólio, "vela" é a famosa tora. "Pastel" é o beque frouxo que lembra o formato da iguaria chinesa.

    "Fumar na paulista" é dar um tapa só e passar adiante (alusão ao cumprimento paulista, que consiste num beijinho só). "Dedo-de-cola" (glue finger) é o vacilão que não passa o beque adiante.

    Se disserem que "tal taxista é 171" (oom-setch-oom), não é o número da licença, mas o artigo do Código Penal para estelionato. "171" é pilantra, "157" é assaltante, "22" é maluco, e "X9" (we say cheese-nov) é dedo-duro (hard finger), também conhecido como "dedo-de-seta" (arrow finger), que é aquele que explana ("chisnoveia") as merdas que alguém faz para a polícia ou para a mãe dele, dependendo da idade do meliante.

    O Lochte, por exemplo, é um vacilão que tentou mandar um caô mas não contava com os X9. Pois é, vacilão tem em todo canto. Google Translate, por exemplo: tá vacilando.

    gregorio duvivier

    É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos. Escreve às segundas.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024