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    Gregorio Duvivier

    Uma coluna sobre aquele que não pode ser nomeado

    17/04/2017 02h40

    Houve um tempo em que a principal preocupação dos pais em relação aos filhos eram as drogas. Já não são. Cada dia que passa, mais pré-adolescentes se dizem fãs do Bolsonaro. Em todo país, crianças se reúnem em praças para trocar torturinhas. Uma menina diz que bandido bom é bandido morto, o amigo rebate alegando que ela é tão feia que não merece ser estuprada. E assim funcionam as bolsolândias, regiões assim denominadas pela alta incidência de bolsominions.

    O fato é que o Bolsonaro se tornou a nova Galinha Pintadinha - mas com menos sofisticação. Ambos são galináceos e ambos estão roubando nossa juventude. Além disso, ambos tratam a questão do gênero como estritamente binária ("a galinha usa saia/e o galo paletó") e ambos falam o que pensam, e parecem pensar muito pouco. A diferença entre os dois é que a lei eleitoral proíbe a Galinha Pintadinha de se candidatar à Presidência. E a Galinha Pintadinha nunca defendeu a tortura -embora, em certa medida, a tenha praticado.

    Bolsonaro lembra aquele namorado da sua irmã que bebe demais no Natal e estraga a noite de todo o mundo contando piadas racistas e vomitando no carpete. Não adianta dizer pra sua irmã que ele é um babaca. As paixões crescem quando proibidas: vide Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, e, claro, Maiara e Maraísa ("Nossa paixão pega fogo escondidinho/ a gente se ama gostoso em qualquer lugar"). Ao mesmo tempo, algo precisa ser feito ou sua irmã pode engravidar desse sujeito e - tcharã - ano que vem você terá bolsobabys vomitando no sofá e comendo o cocô do cachorro.

    Catarina Bessell/Folhapress

    A verdade é que ninguém sabe o que fazer com a galinha verde-oliva. Há quem diga que não se deve sequer mencioná-lo. Assim como Voldemort, devemos chamá-lo apenas de Você-sabe-quem ou Aquele-que-não deve ser nomeado. Da minha parte, acho que ignorar o elefante na sala não faz com que o elefante suma da sala - e não faça um cocô gigantesco.

    Por isso sou a favor da legalização de todas as drogas, incluindo o Bolsonaro. Funcionou muito bem com o tabaco. Por mim, você pode curtir Bolsonaro à vontade, assim como você pode fumar seu Derby -mas numa distância de 5 metros da calçada, e a cada declaração do deputado com saudade da ditadura você tem que mostrar fotos das crianças torturadas no período e uma advertência do ministério da democracia: "Pedir intervenção militar não te fará imune à prisão, tortura ou desaparecimento numa eventual ditadura".

    gregorio duvivier

    É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos. Escreve às segundas.

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