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    Guilherme Wisnik

    O 'volume morto' da educação?

    04/04/2016 02h00

    Criada em 1987 a partir da junção de outros órgãos, a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) é a herdeira de um conhecimento precioso na área de construção e manutenção de escolas no Estado de São Paulo. Infelizmente, ela passa agora por um processo de desmonte.

    A história da FDE é um exemplo de correção e empenho no sentido do planejamento e do projeto. Além de um papel fundamental na área da educação, a fundação tem tido uma importância crucial também para o campo da arquitetura. Pois são justamente as escolas da FDE a principal oportunidade que os jovens arquitetos paulistas encontram de realizar projetos e obras com essa escala, complexidade e importância social, além de
    poder trabalhar também em seus quadros técnicos.

    Braço importante da Secretaria da Educação, a FDE é responsável pela estrutura física da rede de escolas do Estado, incluindo contrato e gerenciamento de projetos e obras de edifícios novos, bem como restauro e manutenção dos antigos, com sistemas de combate a incêndio e adequação para atendimento à acessibilidade universal. Estão incluídos aí também a compra e manutenção de mobiliário, kits de material
    escolar e redes de informática.

    Com a marca expressiva de mais de 5.000 unidades funcionando, a rede de ensino do Estado de São Paulo atende a aproximadamente 4 milhões de alunos. E mesmo que não se construam novos edifícios pelos próximos anos, o que dizer acerca da manutenção da estrutura de toda essa rede, além da necessidade de adequação de muitas dessas unidades aos padrões universais de acessibilidade, já acordada com o Ministério Público? Como atender a todas essas demandas sem verba e pessoal?

    Os recursos para a FDE, que em 2014 foram de R$ 2 bilhões, caíram em 2015 para a metade, e a previsão para 2016 é de mais um corte significativo. O contingente de funcionários reduz-se agora a 30% do que era há dois anos. Assim, se o enxugamento administrativo da área ficou interrompido na mal sucedida tentativa de reorganização escolar, outras formas de contenção de gastos passam na sombra. Sabemos que a arrecadação fiscal de São Paulo tem diminuído. Mas assistiremos em silêncio ao sucateamento da rede escolar do Estado mais rico do país? Tudo isso, cabe lembrar, coincidindo com o aparecimento do escândalo da máfia da merenda escolar.

    A pergunta que fica é: se não for mais a FDE, quem vai se responsabilizar por todas essas complicadas e nobres tarefas? Qual é o plano do governo do Estado para o futuro da educação em São Paulo? Através de suas últimas resoluções, o governo reduz o número de coordenadores pedagógicos nas escolas e incentiva a superlotação das salas, o que, evidentemente, estimula a evasão estudantil. Claramente, ao invés de ser entendida como investimento, a educação está sendo tratada como um oneroso gasto.

    Hegemônico no Estado, o PSDB perde a chance única de usar a continuidade política para criar uma cultura estruturada de projetos a longo prazo, optando, ao contrário, pelo desmanche. Considerando exemplos notórios como a recente crise hídrica, sabemos que a gestão Alckmin não prima pela capacidade de previsão dos problemas. E antes que precisemos contar com o que seja algum "volume morto" da educação, cabe cobrar atitudes de esclarecimento público sobre tais medidas.

    guilherme wisnik

    Escreveu até janeiro de 2017

    É professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e crítico de arte.

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