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    Guilherme Boulos

    2015: ano de agitações

    01/01/2015 03h00

    Este ano será de intensas lutas sociais no país. O projeto petista dá sinais cada vez mais fortes de esgotamento, sintomas de fim de ciclo. A economia não ajuda. E as escolhas de Dilma ajudam menos ainda a contemplar os setores populares.

    Os dois últimos anos reviraram ao avesso o pacto social construído pelo PT. As mobilizações da juventude em junho de 2013 –com seus efeitos à direita e à esquerda– e as lutas populares urbanas em 2014 anunciaram a retomada de um período de agitação social. Junto a elas, o crescimento expressivo das greves nos últimos anos, com um pico de 873 em 2012.

    O pacto durou enquanto foi cimentado pelo crescimento econômico. A ideia de que todos podem ganhar, simbolizada por Lula, tinha base no crescimento econômico médio de 4% ao ano entre 2003 e 2010. Embora fosse um pacto desigual, onde os empresários ganharam muito mais que os trabalhadores, foi o que deu substância para a política de conciliação de classes no último período.

    Mas o maná acabou. O crescimento médio anual nos quatro anos de Dilma foi de 1,5%, supondo-se a taxa de 0,2% em 2014 prevista pelo Banco Central. Para 2015 a previsão do governo é de 0,8%.

    Neste cenário, não é mais possível um pacto social. Baixo crescimento econômico significa quase sempre instabilidade política e mobilização popular. Foi o que vimos renascer nos últimos anos.

    O orçamento encolheu e a base de apoio também. Dilma ficou diante de uma encruzilhada. Ou enfrentava a crise com um programa de reformas estruturais, buscando uma base de apoio popular para enfrentar o Congresso e a banca, ou cedia à chantagem do mercado e da direita e avançava num governo orientado por medidas impopulares. Passadas as eleições, foi rápida em definir o caminho.

    Indicou uma equipe econômica neoliberal, com a missão de fazer cortes de gastos. Aumentou os juros duas vezes em dois meses. Autorizou o reajuste do combustível e agora fala em abrir o capital da Caixa Econômica Federal. Na política seguiu a mesma toada, compondo o ministério com um show de horrores: Kassab, Kátia Abreu, pastor George Hilton, Helder Barbalho.

    Ante a crise, política optou pelo aprofundamento de uma governabilidade conservadora. Ante a crise econômica, apostou na saída neoliberal com a esperança de retomar o investimento do setor privado na economia.

    Essas escolhas naturalmente terão um preço. O preço das políticas antipopulares: mobilizações de rua, ocupações, greves. Assim será 2015.

    Não estamos diante de abstrações. Já se fala em corte de gastos de R$ 100 bilhões pela equipe econômica. Isso significa evidentemente redução de investimentos sociais e ataques a direitos trabalhistas e previdenciários. Alias, já começou, com o anúncio de novas regras para o seguro-desemprego e pensões.

    Kassab no Ministério das Cidades representa o aprofundamento da política urbana voltada ao setor imobiliário. Nada de Estatuto das Cidades. Nada de reforma urbana. A política que na última década transformou as cidades brasileiras em barris de pólvora prestes a explodir. Problemas como moradia, mobilidade e distribuição territorial dos serviços públicos tendem a se agravar ainda mais.

    Dilma tomará posse hoje com esse passivo social. De frente para o Congresso e de costas para os movimentos populares.

    Seria estranho supor que esse conjunto de medidas gere passividade social, principalmente depois do que vivenciamos nos últimos dois anos.

    São Paulo terá ainda suas batalhas particulares. Haddad e Alckmin já anunciaram o aumento das tarifas de transporte para os próximos dias, que será enfrentado pelas primeiras mobilizações do ano. E se não chover acima da média até março, o risco do colapso hídrico no Estado permanece alto. E com ele a revolta popular.

    Por reformas populares, direitos sociais, moradia, transporte público e água, lutas não faltarão. 2015 promete!

    Formado em filosofia pela USP, é membro da coordenação nacional do MTST e da Frente de Resistência Urbana.

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