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    Guilherme Boulos

    Garoto de Ipanema

    24/09/2015 02h00

    Ontem foi noticiado que o senador Aécio Neves (PSDB) utilizou aeronave oficial para ir 124 vezes ao Rio de Janeiro, quando era governador de Minas Gerais. A maioria das viagens ocorreu, curiosamente, entre as quintas-feiras e os domingos.

    Que Aécio goste da zona sul carioca e até mesmo que se recuse a fazer o teste do bafômetro por lá - como em 2011, quando parado numa blitz - é uma questão dele. Agora, que use dinheiro e patrimônio públicos para fazer suas andanças nas noites de Ipanema já é outra coisa.

    É ato de improbidade administrativa, que poderia levar a perda das funções públicas e suspensão dos direitos políticos. Poderia, é claro, pois tratando-se do PSDB - partido de Aécio - as punições da lei ficam sempre no futuro do pretérito.

    Imaginem se fosse o Lula viajando para Garanhuns duas vezes ao mês com aeronaves da FAB. O ministro Gilmar Mendes já o teria chamado "às falas" e a turma dos Jardins faria panelaço todo domingo contra a imoralidade pública.

    Já Aécio, o garoto de Ipanema, pode viajar à vontade com aeronaves do governo de Minas, pode até dar um aeroporto de presente para o tio, e nada acontece.

    É impressionante a blindagem judicial e midiática dos tucanos neste país. Além das questões de Aécio com aeronaves e aeroportos - que logo serão esquecidas - quem se lembra ainda do mensalão de Minas, a caminho da completa prescrição? E do escândalo dos trens em São Paulo?

    Sem falar de tantos e tantos casos do governo FHC, sendo os mais emblemáticos deles a notória compra de votos parlamentares para a emenda da reeleição e as privatizações feitas "no limite da irresponsabilidade", de acordo com as palavras de um ministro tucano à época.

    Ninguém indiciado, nenhum preso. Posam ainda como paladinos da moralidade. A cumplicidade de setores do Ministério Público, do judiciário e da mídia com o PSDB é um câncer que corrói a credibilidade das instituições brasileiras.

    HORDA FASCISTA

    O dirigente do MST João Pedro Stédile foi cercado e hostilizado no aeroporto de Fortaleza na última terça-feira (22) por uma horda de fascistas raivosos. Entoaram cantos e ameaçaram covardemente Stédile e a professora que o acompanhava. Mais uma expressão da escalada de intolerância da direita nacional, incentivada por colunistas e "lideranças" tão irresponsáveis quanto acéfalos.

    Estão plantando no Brasil as sementes do fascismo e criando uma situação que poderá fugir do controle. Deixar passar sem mais episódios como este é silenciar ante o perigo destas atitudes para o futuro. Toda solidariedade ao MST, a Stédile e aos que têm sido alvos da covardia fascista.

    Formado em filosofia pela USP, é membro da coordenação nacional do MTST e da Frente de Resistência Urbana.

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