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    Guilherme Boulos

    Temer não terá governabilidade nas ruas

    08/09/2016 12h53

    Alan Marques/Folhapress
    Ricardo Lewandowski, Marcela Temer e Michel Temer em desfile de 7 de setembro em Brasília
    Ricardo Lewandowski, Marcela Temer e Michel Temer em desfile de 7 de setembro em Brasília

    Ao destituir Dilma da presidência e entregar a faixa a Michel Temer, a maioria do Senado acreditou estar dando um ponto final na crise política. Agora seria olhar pra frente e pacificar o Brasil. Muita gente na elite política continua apostando nisso.

    Freud alertou, já no século 19, que quando desejamos muito um desfecho, passamos a acreditar nele sem maior juízo crítico. Assim se forma o pensamento mágico, que está na origem dos contos de fadas. Só essa digressão, somada a uma pitada de empáfia aristocrática, explica a miopia do governo Temer em relação à resistência que enfrentará nas ruas.

    "Manifestações inexpressivas", "40 pessoas que quebram carro", "mini, mini, mini" foi o que disseram após dias seguidos de protestos em São Paulo e outras cidades do país. Simultaneamente, o ministro Alexandre de Moraes –que mostrou ainda exercer comando direto sobre a PM paulista– apostava na repressão sistemática para esvaziar as manifestações e rotulá-las como violentas.

    A maior resposta foram 100 mil pessoas nas ruas de São Paulo no último domingo. Rio de Janeiro, Recife, Fortaleza, Florianópolis: manifestações de grande expressão foram registradas pelo país. As ruas responderam a provocação com um sonoro Fora Temer.

    A tentativa de classificar as mobilizações como "petistas" também fracassou. Embora militantes e parlamentares do PT também estejam –legitimamente– nas ruas, quem presenciou os protestos pôde perceber a presença majoritária de pessoas sem qualquer ligação com partidos e mesmo movimentos sociais, em especial jovens.

    Apesar disso, o governo Temer optou por insistir na miopia. Após manifestações em várias cidades no 7 de setembro, inclusive com direito a vaias e gritos de Fora Temer no desfile oficial, Eliseu Padilha declarou que "não havia mais do que 18 manifestantes". Geddel Vieira, famoso boquirroto, foi ainda mais provocativo: "Que protesto? 15 pessoas?". Essa turma não aprende. Horas depois, o Maracanã lotado presenteou Temer com uma vaia ensurdecedora na abertura da Paraolimpíada.

    As mobilizações tendem a crescer e ganhar outro patamar. Não somente pela arrogância do governo e a repressão policial. Mas principalmente pela agenda de regressão social que tentarão impor, com as contrarreformas trabalhista e previdenciária e com a PEC 241, que pretende congelar investimentos sociais por 20 anos. Sem falar na operação montada para salvar Eduardo Cunha. É de se esperar uma reação contundente das ruas.

    Temer e o PMDB são verdadeiros mestres da política de negociatas para obtenção de maioria parlamentar. Neste quesito, são os melhores profissionais do ramo, a ponto de conduzirem com êxito um golpe institucional no país. A política, para eles, se reduz a isso. Assim, após costurarem uma expressiva maioria de dois terços no Congresso acreditaram que todos os seus problemas estavam resolvidos. A tão almejada governabilidade estaria garantida.

    Mas o Brasil não é a Praça dos três poderes. Ter governabilidade no parlamento não significa tê-la nas ruas. E essa Temer não tem e nem terá.

    Nesta quinta-feira (8) haverá nova manifestação em São Paulo. Já há outra marcada para domingo, às 14 horas, na Avenida Paulista. Quem achava que terminou se surpreenderá ao ver que está apenas começando.

    Formado em filosofia pela USP, é membro da coordenação nacional do MTST e da Frente de Resistência Urbana.

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