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    Guilherme Boulos

    O xadrez das eleições em São Paulo

    29/09/2016 02h00

    Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress
    O candidato do PSDB a prefeitura de São Paulo, João Doria, faz visita a feira livre na avenida Elísio Cordeiro de Siqueira na Vila Mangalot, na zona oeste da capital, nesta quarta-feira (28).
    O candidato do PSDB a prefeitura, João Doria, faz visita a feira lna Vila Mangalot

    As eleições municipais em São Paulo sempre foram vistas como um importante termômetro para os projetos nacionais. Neste domingo, mesmo com uma campanha curta e despolitizada, não será diferente. Possíveis candidatos em 2018, Lula, Alckmin e Serra medirão forças.

    Os principais nomes do PSDB paulista travam uma guerra particular. Alckmin joga todas suas fichas em João Doria, enquanto Serra vai de Marta. Não é a primeira vez: em 2008 Serra apoiou Kassab contra Alckmin e, naquela ocasião, saiu vitorioso.

    Desta vez, a tendência é outra. Alckmin usou a máquina estadual para alavancar Doria e conseguiu unificar o eleitorado tucano. Marta, com todos seus pedidos de desculpa, não convenceu a classe média antipetista. As flores para Janaina Paschoal não bastaram e Serra, impedido de atuar abertamente, não foi capaz de transferir voto tucano.

    Se Doria sai vitorioso, Alckmin se credencia como nome forte do PSDB para 2018. A Serra, com sua incansável obsessão presidencial, restará a migração para outro partido - quiçá o próprio PMDB - ou apostar junto com Gilmar Mendes na louca aventura de eleições indiretas em 2017, o golpe dentro do golpe.

    Do lado do PT a situação é muito delicada. Era de se esperar. A campanha de desconstrução do partido e da figura de Lula, a destituição de Dilma da presidência e ter se tornado o alvo quase exclusivo da Lava Jato significam um desgaste com forte efeito eleitoral. Principalmente em São Paulo, que se tornou a capital do antipetismo.

    O tradicional voto petista no "cinturão vermelho" das periferias parece ter se fragmentado em duas ex-prefeitas e ex-petistas. Marta, que saiu do partido pela porta direita, e Erundina, que saiu pela porta esquerda. Celso Russomanno, com seu populismo conservador, conseguiu capitanear - como na eleição passada - o voto de periferia não petista. Haddad, cuja aprovação na periferia é baixa, mantém o voto petista de opinião, o voto de esquerda.

    Este voto, em nível nacional, têm sido disputado pelo PSOL. Em algumas capitais, como Rio e Belém, o PSOL conseguiu se credenciar firmemente como alternativa à esquerda, apesar de uma legislação eleitoral que o reduziu quase ao silêncio. Em São Paulo, mesmo com o simbolismo de Erundina, teve maior dificuldade. Isso porque algumas políticas da gestão Haddad - como as ciclovias, ruas abertas e a valorização do transporte público - contam com forte simpatia do eleitorado progressista.

    Mas este voto não é suficiente sequer para levar Haddad ao segundo turno. Sua chance nesta reta final depende de um forte avanço entre os eleitores de periferia, fundamentalmente aqueles que hoje estão com Marta.
    Neste momento, as pesquisas apontam Doria, Russomanno e Marta à frente, os três pertencentes à base do governo Temer. Fato contraditório, já que a rejeição de Temer na cidade de São Paulo é mais alta que a média nacional. A última pesquisa Ibope, realizada em agosto, mostrou aprovação de apenas 13% e rejeição de mais de 40%. Fato que revela também a despolitização deste processo eleitoral.

    O que ocorrer em São Paulo no próximo domingo influenciará o jogo de forças no país. Se tivermos no segundo turno dois candidatos de Temer - e, ademais, dispostos a desmontar avanços nas políticas públicas urbanas - isso representará um retrocesso para São Paulo e para o Brasil.

    Formado em filosofia pela USP, é membro da coordenação nacional do MTST e da Frente de Resistência Urbana.

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