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    Gustavo Patu

    Direita não sabe o que oferecer em troca da redução do governo

    03/01/2017 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    O presidente Michel Temer e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em cerimônia em Brasília

    BRASÍLIA - Os Estados Unidos são a única grande democracia ocidental onde a carga de impostos se mantém basicamente a mesma há mais de 50 anos. Lá, os tributos federais, estaduais e municipais consomem pouco mais de um quarto da renda nacional, um dos menores patamares do mundo desenvolvido.

    Trata-se da evidência mais clara das resistências políticas e culturais ao crescimento do governo, enraizadas em camadas substanciais da sociedade americana e incorporadas, em especial mas não somente, ao ideário do Partido Republicano.

    Ao apelo da expansão do aparato de proteção social, os conservadores contrapõem a preservação das liberdades individuais e das tradições sobre as quais a nação foi erguida, o que pode abarcar coisas tão diversas quanto o empreendedorismo, a escolha do plano de saúde e o direito de portar armas —ou, em casos mais extremos, o isolacionismo, o racismo, a xenofobia. São valores, goste-se ou não deles.

    Aqui no Brasil está em curso uma agenda conservadora, ou, mais precisamente, de redução do tamanho do governo. Foi uma imposição das circunstâncias, não uma preferência dos políticos, muito menos uma demanda do eleitorado.

    Graças aos equívocos econômicos e morais da esquerda, o que faz as vezes de direita está no poder. Mas PMDB, PSDB e companhia não dispõem de valores a oferecer em troca do corte de direitos sociais e serviços públicos. São, em geral, estatistas como seus adversários, apenas mais amigáveis ao mercado credor.

    Quando muito, podem alardear o trabalho para evitar nova alta dos impostos ou da inflação —o que decerto encontra eco na sociedade, mas não vai além do remendo emergencial.

    É sintomático que o tucano Geraldo Alckmin, tido como grande vitorioso das últimas eleições municipais, tenha tão pouco a apresentar além do congelamento das tarifas de metrô, mais um favor do governo.

    gustavo patu

    Editor de 'Opinião'. Na Folha, já foi repórter especial, coordenador de Economia em Brasília e secretário-assistente de Redação

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