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    Guto Requena

    Arquitetura feia, cidade doente

    13/01/2013 06h30

    Uma visão comum que temos sobre São Paulo, quando caminhamos, andamos de bicicleta, carro ou ônibus, é a de edifícios amontoados, com inúmeras janelinhas, muito parecidos entre si. São prédios estandartizados numa repetição de formas, aglomerados ortogonais e variações cinza de um mesmo tema.

    A arquitetura de São Paulo é, no geral, entediante, careta e pretensiosa. E, quando temos a chance de criar edifícios interessantes e inovadores, optamos pela absoluta irrelevância, como, por exemplo, nas novas estações do metrô ou em unidades do Sesc na capital --não foi criado nenhum edifício realmente exemplar depois do Sesc Pompeia, desenhado em 1977 pela arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992).

    Se a arquitetura expressa a cultura, os ideais e a identidade de um povo, é muito triste que estejamos esvaziados a ponto de termos orgulho apenas do passado. As referências ainda são o prédio do Masp (de 1968, também de Lina Bo Bardi), o da Bienal, no parque Ibirapuera (de 1957, de Oscar Niemeyer) ou o de residenciais modernistas no bairro Higienópolis.

    É claro, existem iniciativas importantes, como a recém-inaugurada Praça das Artes, do escritório Brasil Arquitetura, ou os experimentos residenciais contemporâneos da incorporadora Idea Zarvos, na Vila Madalena. Mas são poucos os empresários preocupados com os desenhos de seus investimentos e suas relações com a cidade.

    Estamos nas mãos de grandes corporações e incorporadoras, que inventam a nossa São Paulo baseadas unicamente na lógica do lucro, negando a metrópole e criando uma arquitetura medíocre. Vide o que acontece na região do Baixo Augusta, conhecida por sua diversidade. Lá, surgem megatorres, com o modelo de condomínio fechado --guaritas de segurança, câmeras de vigilância e muros altos-, que recria em seu interior a suposta cidade ideal. São projetos que exibem com arrogância um modelo de urbanismo que estimula a segregação e o medo.

    Fazer boa arquitetura não é uma questão de dinheiro. Falta, sim, vontade política, leis mais severas para os novos empreendimentos, ousadia empresarial e concursos públicos e privados que incentivem ideias e jovens escritórios. E, fundamentalmente, falta educação. Uma cidade que despreza sua arquitetura é uma cidade doente.

    guto requena

    Escreveu até novembro de 2015

    É arquiteto graduado pela USP.

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