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    Guto Requena

    Somos todos ciborgues

    05/05/2013 01h30

    Nosso corpo e nossa subjetividade passam por uma profunda transformação neste momento em que questões orgânicas e tecnológicas convergem. Somos todos ciborgues.

    Nosso organismo foi modificado e ampliado por meio de próteses tecnológicas, como aparelhos auditivos, lentes corretivas, marcapassos e implantes com "biochip". Submarinos nos levam ao fundo do oceano, telescópios ampliam nosso olhar para as estrelas e microscópios nos fazem enxergar nossas células.

    O homem é capaz de mapear e clonar o próprio código genético e muitas funções vitais já são replicáveis, da mesma forma que máquinas adquirem qualidades vitais e se tornam cada vez mais amigáveis.

    Engenharia genética, biotecnologia, nanotecnologia, novas técnicas de reprodução, organismos transgênicos e mapeamento do genoma são alguns exemplos da nossa era de controle biológico, que torna o homem produto de uma prática híbrida entre natureza e técnica.

    Com a internet e as tecnologias numéricas, adquirimos autonomia em relação aos espaços físicos --viajamos no tempo e no espaço, trabalhamos à distância e manipulamos situações de forma não presencial.

    O modo "multidirecional" de troca de informações, tão característico do mundo digital, coloca em questão a natureza da subjetividade humana, pois o homem não está mais num espaço e num tempo estável e fixo, a partir do qual calcula racionalmente seus pensamentos.

    A palavra ciborg (cib-ernético mais org-anismo) foi criada por Manfred Clynes e Nathan Kline, em 1960, em meio às teorias do programa espacial norte-americano. O neologismo foi disseminado pela feminista socialista e historiadora Donna Haraway, em 1985, no "Manifesto Ciborgue". Ele sugere a união, em um mesmo corpo, "entre o orgânico e o mecânico, a cultura e a natureza, o masculino e o feminino, o simulacro e o original, a ficção científica e a realidade".

    Como criar produtos e espaços sem conhecer esse novo homem? Analisar as mudanças físicas, psíquicas, sensoriais e cognitivas que estão em processo em nosso corpo expandido, sem medos ou deslumbramentos, deve ser o ponto de partida de qualquer projeto de design.

    guto requena

    Escreveu até novembro de 2015

    É arquiteto graduado pela USP.

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