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    Guto Requena

    A promessa da casa inteligente

    16/06/2013 01h30

    A automação residencial promete facilitar e proteger a vida doméstica. São controles e aplicativos para celular, que regulam desde a iluminação ao acionamento da banheira de hidromassagem à distância.

    As promessas para a "casa do futuro" se baseiam numa euforia típica da nossa geração deslumbrada com o digital. Além disso, os índices de violência, associados aos estímulos da indústria do medo, despertam o desejo por produtos para segurança, como câmeras de vigilância, controladores de acesso digitais e sensores de presença e alarme.

    São apetrechos que ajudam a criar um ambiente urbano pan-óptico (vigiado), supostamente mais seguro, e que coloca o Brasil como um dos maiores consumidores de automação residencial do mundo.

    O termo "casa inteligente" é exaustivamente usado por essa indústria como ferramenta de marketing. No entanto, vale lembrar que, em diversas tribos indígenas brasileiras, as ocas eram inquestionavelmente inteligentes. Reconfiguráveis e flexíveis, elas priorizavam a troca e a circulação de ar, utilizavam materiais locais, biodegradáveis e respeitavam o meio ambiente. E tudo isso sem tecnologia digital.

    Diversos textos sobre automação dos lares têm a família Jetsons como um modo de vida metropolitano ideal do futuro. Mas "Os Jetsons" têm um arranjo familiar característico de todo o século 20, tipicamente nuclear (pai, mãe e filhos), tal como a família pré-histórica de outro desenho animado dos estúdios de Hanna-Barbera, "Os Flintstones".

    Criadas nos anos 1960, ambas refletem um período em que Hollywood disseminava o "american way of life", exportando o arranjo patriarcal e regulando o trabalho doméstico pela mãe, a "rainha do lar".

    A automação residencial, disponível no país, hoje, não traz mudanças para o espaço da habitação --limita-se a reproduzir o modelo tradicional familiar e a resolver questões meramente funcionais.

    Esperamos mais da casa inteligente: que se adapte às necessidades, de maneira simples e automatizada, e com baixo impacto ambiental. Esperamos que seja, em si, uma grande superfície de comunicação, aglutinadora de conteúdos e memórias de seus moradores.

    guto requena

    Escreveu até novembro de 2015

    É arquiteto graduado pela USP.

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