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    Guto Requena

    Reflexões sobre a Bauhaus

    14/07/2013 01h30

    Aproveitei o feriado para visitar a exposição "bauhaus.foto.filme", que apresenta cerca de cem fotos e 22 filmes dos acervos do Arquivo Bauhaus e da Fundação Bauhaus Dessau, em cartaz no Sesc Pinheiros, em São Paulo, até 4 de agosto.

    A revolucionária escola alemã de artes visuais, design e arquitetura que funcionou de 1919 a 1933, fundada e dirigida pelo arquiteto Walter Gropius, ainda influencia nosso modo de vida e a configuração de grande parte dos cursos de arte, design e arquitetura. Dois vídeos me hipnotizaram, pois mostravam de forma muito didática "as maravilhas da casa modernista".

    A casa para aquele novo homem deveria ser flexível, amparando as diferentes atividades que acontecem nela, com móveis multifuncionais, como o sofá que se transformava em cama e poltrona de leitura. Quase um século se passou, mas incorporadoras insistem em construir apartamentos que reproduzem a tripartição burguesa, originada no século 19 na França, que compartimenta o espaço nas áreas social, íntima e de serviços.

    A casa-máquina deveria organizar a vida de seus moradores regida pelo princípio da funcionalidade, projetada na lógica do racionalismo, típico do desenvolvimento da indústria da época, especialmente da automobilística. O banheiro, por exemplo, seria apenas para a higiene, a suíte para dormir e a cozinha para preparar alimentos. No cotidiano doméstico, porém, é impossível determinar se um romance vai acontecer na escada, um piquenique no tapete da sala ou o trabalho no quarto. O maior erro da arquitetura modernista foi tentar prever a imprevisibilidade da vida.

    As casas dos vídeos condenavam o ornamento e tudo que não tinha uma função era visto como excesso. Minha formação como arquiteto compartilhou desse princípio e me ensinou que "menos é mais".

    No entanto, a vida tem me mostrado que o que faz de uma casa um lar é a memória das coisas, paredes, janelas e objetos que carregam cenas, lembranças, pessoas e lugares.
    Assim, se um elemento construtivo emociona, já cumpre sua função. E é por isso que eu imagino que a casa no futuro não será asseada e branca como um bidê ou um iPod.

    guto requena

    Escreveu até novembro de 2015

    É arquiteto graduado pela USP.

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