• Colunistas

    Saturday, 11-May-2024 10:56:08 -03
    Guto Requena

    Makers e o abismo digital

    DE SÃO PAULO

    19/10/2014 01h30

    Eu tenho fascínio pela fabricação digital desde a primeira vez que ouvi falar do assunto. Foi num estágio que fiz em Los Angeles (EUA), no escritório GLForm, do Greg Lynn, um grande filósofo, matemático e arquiteto, e um dos principais teóricos norte-americanos de Cultura Digital.

    Lá, trabalhei servindo café, fazendo faxina e uma maquete gigante que jamais terminei.

    Era o ano de 2000, início da minha faculdade e da popularização da internet (discada, com aquele chiado nostálgico no momento da conexão, lembra?), minhas primeiras contas de email e redes sociais.

    Foi lá, na terra do cinema, que, privilegiado, visitei atônito uma fábrica de produção digital de grande porte. Com aura de ficção científica e muito sigilo, presenciei a fabricação de protótipos em escala real de uma Ferrari e de um caça da Força Aérea americana sendo esculpidos em blocos de polímero, ao vivo, por imensos braços robóticos.

    Pasmo, vi também, pela primeira vez, uma impressora 3-D, fazendo próteses para corrigir deficiências físicas de pessoas que perderam membros em acidentes. Greg Lynn foi o arquiteto consultor do filme "Minority Report" (2002), de Steven Spielberg, motivo daquela visita inesquecível para acompanhar a confecção do cenário. Eu, um molecão criado em Araçoiabinha da Serra (interior de SP), me vi ali no meio de robôs, nocauteado pelas possibilidades que se abriam.

    Essas tecnologias, cada vez mais democráticas, distribuídas e acessíveis, estão nas mãos de uma nova geração de "fazedores", os chamados "makers". Em suas casas, escolas ou laboratórios de fabricação digital (os Fablabs), eles exercitam coletivamente a reconstrução do mundo em que vivemos, melhorando produtos existentes ou criando novos serviços, por exemplo.

    Para que essas ideias não se restrinjam a um grupo de privilegiados, é fundamental e urgente um programa de políticas públicas no Brasil que amplie o acesso a tais conteúdos e tecnologias a jovens menos favorecidos.
    Caso contrário, correremos o risco de aumentar ainda mais o abismo de educação e cultura existente, distanciando-nos da possibilidade de viver numa sociedade menos desigual.

    guto requena

    Escreveu até novembro de 2015

    É arquiteto graduado pela USP.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024