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    Guto Requena

    O novo design latino-americano

    11/01/2015 01h30

    Se você viajar para Nova York até 5 de abril não deixe de visitar a exposição "New Territories - Laboratories for Design, Craft and Art in Latin America" (newterritorieslab.org), no Museum of Arts and Design.

    Com curadoria de Lowery Stokes Sims e assistência da brasileira Adriana Kertzer, essa é a primeira exposição coletiva de design contemporâneo latino-americano em um museu norte-americano.

    O título "Novos Territórios" refere-se a uma frase do arquiteto italiano Gaetano Pesce sobre os tênues limites entre arte, design e artesanato na sociedade globalizada atual.

    Com obras de mais de 75 profissionais, entre os quais eu, a mostra foca em cidades que são incubadoras culturais e de inovação, como Caracas (Venezuela), Santiago (Chile), Havana (Cuba), San Juan (Porto Rico),

    Cidade do México (México), San Salvador (El Salvador) e São Paulo.

    São "cidades-laboratório" que lidam com temas como reciclagem e reaproveitamento, novos mercados, coletividade e experimentação, espaços públicos e identidade.

    Um exemplo são os tapetes do cubano Carlos Garaicoa, que mimetizam desenhos de pisos da cidade, verdadeiras arenas sociais.

    Os arquitetos brasileiros Marcio Kogan e Isay Weinfeld expõem uma cerca de proteção feita com revólveres, e o carioca David Elia apresenta sua mesa lateral à prova de balas -segundo o texto da curadoria, um estudo de 2013 das Nações Unidas identificou que, das 30 cidades mais violentas do mundo, 11 estão no Brasil.

    A exposição destaca ainda o modo como designers latino-americanos estão comprometidos em resgatar tradições do artesanato, a fim de preservar suas heranças nacionais, muitas vezes utilizando novas tecnologias digitais, como o "Losing my America", coordenado pelos chilenos do gt2P.

    Essa é uma das mais interessantes exposições de design que já visitei, especialmente pelo seu caráter político, explicitando o cunho social que objetos podem ter, denunciando corrupção, questões de gênero, desigualdades sociais e pobreza.

    Ela nos mostra que o design mais relevante hoje deve ir além de sua função estética e funcional. O design reflete a cultura de um povo.

    guto requena

    Escreveu até novembro de 2015

    É arquiteto graduado pela USP.

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