É no mínimo interessante a mistura de culturas diferentes que se encontra aqui em Dubai, nos Emirados Árabes, em momentos de grandes eventos. Piriguetes atrás de um sultão, estudantes enfiadas em suas burcas, curadores atarefados e indianos de olhar doce e cansado trabalhando na construção de megatorres de arquitetura duvidosa.
Uma camada de poeira quente não nos deixa esquecer de que estamos bem no meio do deserto. Estou aqui para expor na primeira Dubai Design Week.
Instalações, exposições e palestras de profissionais, como o incrível arquiteto libanês Bernard Khoury, se espalham pela cidade.
O Brasil está presente com força total, mostrando que, sim, nós temos inovação. O designer paulista Humberto Campana palestrou no segundo dia do evento; Olívia Yassudo, proprietária da galeria paulistana Coletivo Amor de Madre, apresenta "Deconstruction Zone", de Henrique Stabile, em que placas de madeira cortadas a laser se transformam num quebra-cabeça com inúmeras possibilidades de criar móveis.
Olívia também trouxe a instalação "A Place to Departure", da agência D3, composta por duas janelas capazes de se comunicar através do toque: basta encostar em uma das janelas para que a outra, mesmo distante, vibre.
O arquiteto holandês Kas Oosterhuis, do escritório ONL, uma das minhas grandes referências, apresenta junto com a sua esposa e sócia Ilona Lénárd, a instalação "Robotic Painting Machining Emotion", em que um braço robótico faz uma pintura ao vivo, com os movimentos extraídos dos gestos de Ilona.
Kas é um dos pioneiros e grande teórico da arquitetura interativa e paramétrica (com formas geradas pelo computador). Ele diz acreditar que nossos tempos demandam uma nova indústria civil e uma arquitetura de ruptura com nosso passado modernista, de formas e métodos construtivos tão ortogonais.
Daqui, fica claro que as tecnologias digitais se fundirão cada vez mais às emoções humanas no desenho futuro dos nossos produtos, espaços e cidades.