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    Helio Mattar

    Um por todos, e todos por todos

    13/11/2017 23h00

    Não há vida sem consumo. Seja para os humanos, seja para qualquer organismo vivo, a manutenção da vida depende de consumir ar, água, alimentos.

    E, no caso dos humanos, a esse consumo básico se soma o de habitação, transporte, roupas, equipamentos, mídia, entre outros itens.

    E, em todos esses casos, a cada ato de consumo correspondem impactos - positivos ou negativos - sobre a economia, a sociedade, o meio ambiente.

    Por isso, pode-se dizer que o consumo é um ato político. A cada decisão de compra de um produto ou serviço, em detrimento de outro, cada um de nós exerce o próprio poder de escolha com base em critérios individuais e "vota" a favor de um produto e da empresa que o produz.

    Se esses critérios incluírem o cuidado com os impactos ambientais, sociais e econômicos da produção, do uso e do futuro descarte do produto a ser comprado, automaticamente estaremos "elegendo" as características da sociedade em que queremos viver por meio do nosso "voto" de escolha de compra.

    Se preferimos os produtos de uma empresa em relação a outra, estamos recomendando com nossa compra tais produtos e tal empresa a outros consumidores, ao sinalizar aos concorrentes que fabricam produto da mesma natureza o que é aceitável ou até mesmo desejável para nós em termos de impactos.

    Os impactos das escolhas de consumo terão desdobramentos coletivos que conformam o mundo como ele é, com maior ou menor poluição, maior ou menor bem estar, maior ou menor qualidade de vida, em uma cadeia de impactos e ciclos naturais interligados entre si, representando a causa e a consequência sobre o que será a sociedade.

    Diferentemente do que ocorria na ficção de Dumas "Os 4 Mosqueteiros", onde era "um por todos e todos por um", no caso dos impactos do consumo é "um por todos e todos por todos". Para o bem de todos, ou para o mal de todos...

    Segundo um relatório do "International Resources Panel", publicado em 2016, a extração de matérias primas aumentou de 7 toneladas per capita em 1970 para 10 toneladas por pessoa em 2010, levando a extração de materiais a triplicar, enquanto a população mundial duplicou, causando uma série de impactos, vários deles negativos.

    O que o Akatu tem percebido é que mesmo o consumo de uma única pessoa tem grande impacto. Como exemplo, ao fechar a torneira para escovar os dentes, uma família de quatro pessoas economizará, nos 73 anos de vida dos seus membros, cerca de três piscinas olímpicas cheias de água.

    E se cinco famílias de quatro pessoas passassem a guardar todo o lixo que jogam fora, ao longo de 73 anos seria necessário um prédio de dez andares, com 100 metros quadrados por andar, para guardar todo esse lixo. E o custo de coleta e tratamento desse lixo pelos municípios brasileiros é, em média, 5% do total do orçamento municipal. Isso significa que, se reduzíssemos o nosso volume de lixo, o município gastaria menos em lixo e a diferença poderia ser usada para gastar mais em educação ou em saúde.

    E mais, cada um de nós é modelo para nossas famílias, nossos amigos, nossa comunidade.

    E aí o impacto positivo de uma mudança de comportamento de consumo já se multiplica várias vezes. Junte-se aos consumidores conscientes, reduza os desperdícios em todas as áreas da vida, compre de empresas que tratam bem dos funcionários e de suas comunidades, compre apenas o que é realmente necessário, e contribua para fazer deste mundo um melhor lugar para todos. Basta que seja um por todos e todos por todos.

    helio mattar

    É doutor em engenharia industrial pela Universidade Stanford (EUA), um dos fundadores do Instituto Ethos e diretor-presidente do Instituto Akatu

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