SÃO PAULO - A Copa melhora a popularidade de Dilma? Como?
A questão é interessante. Como já mostraram vários colunistas, é baixa a correlação entre o desempenho do Brasil numa Copa e o sucesso eleitoral do governante de turno. Essa, porém, é a tendência num prazo mais dilatado. De dois a três meses costumam separar a competição esportiva do pleito. No meio do caminho, humores relacionados à Copa podem afetar as percepções dos eleitores.
O mecanismo pelo qual isso ocorre é conhecido como heurística do afeto. Pensar dá trabalho, e o cérebro é um pouco preguiçoso. Assim, quando lhe é cobrada uma opinião ou decisão, em vez de reunir toda a informação necessária para chegar a um parecer racional, ele simplesmente se apega à primeira coisa que lhe ocorre sob a emoção dominante no momento. A estratégia mais funciona do que não funciona, pois, se estamos sentindo medo, fugir tende a ser uma boa resposta (e urgente); se o afeto preponderante é positivo, estendemos o sentimento a tudo o que nos cerca e o mundo fica mais belo.
Uma explicação possível para isso está no fato de neurônios se conectarem em redes que são ativadas por contiguidade semântica, interligando ideias, memórias, sentimentos e emoções. Basta evocar uma palavra de forte conotação negativa como "doença" para despertar sensações desagradáveis as quais, mesmo que não nos demos conta, influenciam nossas decisões. Se temos um sentimento robusto por alguma coisa, modificá-lo exige altas doses de estímulos (ou argumentos) contrários.
A boa notícia é que a maioria das pessoas tem um rol restrito de assuntos que vê com muita paixão, o que as torna parcialmente abertas a argumentações e à revisão de opiniões.
Resta saber se o "feel good factor" relacionado à Copa vai sobreviver e influenciar a eleição. O passado sugere que, mesmo que o Brasil vença, o efeito é efêmero demais para perdurar até outubro.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.