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    Hélio Schwartsman

    Guerra, doença e evolução

    06/07/2014 02h00

    SÃO PAULO - Por ocasião dos 100 anos da Primeira Guerra Mundial, pude ler interessantes textos sobre a dimensão militar e política do conflito. Lamentavelmente, não vi destacado seu aspecto sanitário.
    A Primeira Guerra Mundial, mais especificamente seu front ocidental, foi o primeiro grande conflito em que os generais lograram fazer com que morressem mais soldados em combate do que por causa de doenças.

    A principal arma aqui não foram gases químicos nem metralhadoras, mas brigadas sanitárias, barbeiros e o pessoal de lavanderia, que, jogando na defesa, faziam o possível e o impossível para exterminar os piolhos que se escondiam nos pelos e roupas dos combatentes e são responsáveis pela transmissão do tifo.

    Embora poucos se deem conta, o tifo e outras moléstias que têm ectoparasitas como vetor já dizimaram mais soldados do que qualquer artefato bélico. Como mostra Jeffrey Lockwood, não foi o general Inverno o principal responsável pela derrota de Napoleão na Rússia, mas insetos. Estima-se que, para cada homem do grande estrategista corso morto no campo de batalha, quatro tenham sucumbido a patógenos transmitidos por guerreiros de seis patas.

    Na Guerra Civil americana, a situação não era muito melhor. Dois terços dos 500 mil soldados mortos foram vítimas primárias de doenças.

    A grande verdade é que nós, que nascemos depois do saneamento básico, das vacinas e dos antibióticos, perdemos um pouco a dimensão do verdadeiro flagelo que é a doença. Mas ela está tão entranhada em nossa história que é um das principais forças a moldar a evolução, não só da nossa espécie, mas de toda a vida.

    Ectoparasitas são a principal hipótese para explicar por que o homem perdeu seus pelos. Parasitas também constituem a melhor explicação para o grande mistério da biologia, que é saber por que os eucariontes trocaram a segurança da reprodução por clonagem pelas incertezas do sexo.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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