SÃO PAULO - Pesquisa do cardiologista Marcelo Katz, do Hospital Albert Einstein, mostrou que, de um grupo de 6.544 pacientes que se submeteram a um check-up, apenas 6,1% se autoclassificaram como de alto risco para problemas cardíacos. Entretanto, quando a avaliação foi feita por médicos usando parâmetros técnicos, a proporção saltou para mais ameaçadores 49,3%.
Esse não é o primeiro trabalho a revelar que as pessoas tendem a ser irrealisticamente otimistas quando se trata de fazer estimativas sobre si mesmas. Vários estudos mostram que pacientes não só subestimam seu risco de contrair câncer, Aids e doenças cardiovasculares como superestimam suas chances de cura.
É o que os psicólogos chamam de viés de otimismo. E ele é tão disseminado que serviu de base para Shelley Taylor e Jonathon Brown desafiarem nos anos 80 a explicação tradicional de que uma avaliação precisa de si mesmo e do mundo era fundamental para a boa saúde mental. Em vez disso, propuseram a teoria, hoje bem aceita, de são as ilusões positivas que promovem nosso bem-estar.
Só quem parece imune a esse gênero de fantasia são os deprimidos. O enigma aqui é saber se a apreciação objetiva de si mesmo é a causa ou um mero sintoma da depressão.
Qualquer que seja a resposta, o viés de otimismo é só metade da história. Se vemos a nós mesmos e nosso futuro com as lentes da generosidade, quando se trata de avaliar o mundo, é o pessimismo que dá as cartas. Daí brotam os discursos recorrentes segundo os quais tudo era muito melhor no passado e a sociedade está a um passo do precipício.
A esquizofrenia até que faz sentido se pensada à luz da evolução. Se somos otimistas em relação a eventos cujo desfecho pode depender de nós, nos esforçamos mais e isso tem valor adaptativo. Já no que diz respeito às coisas que não controlamos, aí a posição adaptativa é estar sempre pronto para o pior cenário.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.