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    Hélio Schwartsman

    Escambos salariais

    17/10/2014 02h00

    SÃO PAULO - Em meio à aguerrida campanha eleitoral, até que o aumento de R$ 4.377 travestido de auxílio-moradia que magistrados se autoconcederam não chamou muita atenção. Parlamentares costumam apanhar bem mais quando elevam seus próprios salários ou se valem de alguma manobra que lhes amplie verbas de gabinete.

    Evidentemente, há algo errado aí. Antes de mais nada, é abusar da natureza humana dar a uma categoria a prerrogativa de definir seus próprios vencimentos ou benefícios. Devem existir fórmulas que preservam autoridades de tanta tentação sem amarrar demais o nível de remuneração da carreira, o que poderia torná-la pouco atrativa no longo prazo.

    De modo mais específico, valeria rever a lógica da remuneração nesses setores. Por uma série de distorções, o salário é só parte do que auferem magistrados, parlamentares e autoridades em geral. Como vimos agora, juízes podem contar com o auxílio-moradia. Por vezes, têm direito a carro com motorista e outras mordomias. Ministros de Estado, ao menos os importantes, são agraciados com assentos em conselhos de estatais.

    Ninguém, é claro, supera os parlamentares. Além do salário, contam com verbas de gabinete, cota de passagens aéreas, de contratação de auxiliares, entre outros benefícios.

    Minha sugestão é que todos os badulaques sejam suprimidos para todas as carreiras ainda que isso implique aumentar o salário nominal da autoridade. Desde que o magistrado receba o suficiente para manter um carro, não há necessidade de colocar um veículo oficial à sua disposição.

    A grande vantagem, além de enxugar a folha salarial do governo, é que não perderíamos mais energias discutindo o que é lícito e o que é moral em cada episódio como esse, preservando a imagem das instituições. É justamente porque o dinheiro é muito mais eficaz que o escambo que ele se tornou uma das mais importantes invenções do homem.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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