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    Hélio Schwartsman

    Patologias eleitorais

    21/10/2014 02h00

    SÃO PAULO - Eleição acirrada é sinônimo de veemência. Um indício disso vem das denúncias de crimes de ódio cometidos na internet. De acordo com um levantamento publicado pela Folha, as queixas contra supostos delitos envolvendo racismo, homofobia, xenofobia, intolerância religiosa e afins aumentaram 84% do ano passado para cá.

    É claro que nem tudo que é reportado corresponde a um crime. Eu até arrisco afirmar que a maioria dos casos não configura tecnicamente um ilícito, não passando de generalizações apressadas temperadas por certo descontrole emocional. São coisas como xingar os nordestinos por terem votado maciçamente em Dilma ou imprecar contra os paulistas por terem apoiado Aécio.

    O que está acontecendo? Bem, receio que estejamos diante daquilo que os psicólogos chamam de patologias do pensamento de grupo. Se, em algumas situações, duas ou mais cabeças pensam melhor do que uma, também há casos em que a pluralidade subtrai em vez de somar.

    Uma série de estudos iniciados por Irving Janis nos anos 70 mostra que, para manter a coesão e suprimir o dissenso, grupos frequentemente se engajam em comportamentos irracionais. Os sintomas dessa moléstia incluem radicalização, excesso de otimismo e a tendência a desumanizar o adversário. São especialmente vulneráveis grupos compostos por pessoas que se percebem como semelhantes, o que ocorre quase naturalmente numa eleição polarizada.

    Meu palpite pessoal é que a internet, por possibilitar a formação de ambientes virtuais onde pessoas com ideias semelhantes se encontram e reforçam suas posições, intensifica esse processo.

    O remédio contra as armadilhas do pensamento de grupo não passa por criminalizar ideias –nem mesmo as ideias tolas–, mas por semear a dúvida, de modo a quebrar a ilusão de consenso. Não é fácil, mas tampouco é impossível.

    helio@uol.com.br

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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