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    Hélio Schwartsman

    Defesas patogênicas

    22/10/2014 02h00

    SÃO PAULO - A notícia de que uma segunda enfermeira foi infectada pelo vírus ebola nos EUA fez soar os sinais de alarme. Os CDCs, a vigilância epidemiológica de lá, admitiram que a resposta inicial da agência foi pouco robusta e revisaram o protocolo de segurança para todos os profissionais de saúde, tornando as regras mais rígidas.

    O que eu gostaria de discutir aqui são as nossas defesas contra patógenos que não podemos ver. Nossa primeira linha de proteção é biológica e vem na forma da sensação de repulsa que experimentamos ao visualizar, cheirar ou mesmo imaginar material potencialmente perigoso, como fezes, vômito, carne podre.

    No atacado, até que funciona. De modo geral, mantemos prudente distância desses itens. O problema é que não são apenas coisas nojentas que transmitem moléstias. Picadas de insetos, toques humanos (incluindo sexo), fômites, perdigotos e o próprio ar também podem fazer o serviço sujo. E não é só. Às vezes, as circunstâncias nos fazem passar por cima de nossa programação natural. Mães, e até alguns pais, aprendem rapidamente a trocar as fraldas dos filhos. Profissionais de saúde não deixam de atender pacientes que cheirem mal, estejam vomitando ou apresentem diarreia.

    É aí que entra a segunda linha de defesa. Hoje sabemos como a maior parte das doenças são transmitidas e criamos equipamentos e rotinas para evitá-las. A dificuldade aqui é que esse é um conhecimento exclusivamente intelectual e o que ocorre no nível cortical, embora baste para informar o cérebro, tende a ser um péssimo motivador. A prova disso é que médicos mais do que ninguém sabem que é preciso lavar as mãos antes e depois de examinar cada paciente, mas o índice de higienização entre esses profissionais, mesmo em hospitais-escola do Primeiro Mundo, não passa muito dos 50%. Nossa dificuldade para converter achados da ciência em ações é atávica.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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