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    Hélio Schwartsman

    O dilema dos prisioneiros

    18/11/2014 02h00

    SÃO PAULO - Para a presidente Dilma Rousseff, o escândalo da Petrobras mudará o Brasil para sempre. Ele vai acabar com a impunidade, completa a mandatária. Será?

    Já acompanhei escândalos em número suficiente para reservar-me o direito de ser cético: impeachment de Collor, anões do Orçamento, Sivam, compra de votos para a emenda da reeleição, Banestado, dossiê Cayman, as obras do Fórum Trabalhista de São Paulo, caso Celso Daniel, os mensalões tucano e petista, sanguessugas, operação Navalha, Renangate, caso Daniel Dantas, para citar apenas alguns dos mais graúdos.

    Seria decerto um exagero afirmar que nenhum deles teve consequências, mas parece lícito concluir que mesmo aqueles que resultaram em punições exemplares ficaram muito aquém de representar uma mudança de paradigma. Basta dizer que o mensalão não impediu o petrolão, muito pelo contrário.

    Desta vez, porém, há uma mudança importante que, se nos permitirmos algum otimismo, poderá dar razão parcial a Dilma. Polícia, Ministério Público e Judiciário estão dando um tratamento matemático às investigações, o que torna sua atividade mais científica e menos intuitiva.

    Ao oferecer a todos os investigados a possibilidade de redução de pena por delação premiada, as autoridades recorrem à teoria dos jogos para alterar a lógica que sempre pautou os atores. A posição mais vantajosa para cada acusado, considerando as escolhas dos outros envolvidos (equilíbrio de Nash), passa a ser falar tudo o que sabe. Isso permite não só avançar mais nas investigações como também instruir melhor o processo. Sem a delação premiada, a posição de equilíbrio era ficar calado e contar com a incapacidade da polícia de coletar provas suficientes para a condenação.

    Se a teoria dos jogos veio para ficar, podemos esperar, não o fim da impunidade, mas pelo menos um "upgrade" nas nossas instituições.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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