SÃO PAULO - Foi com surpresa que li na coluna de Vinicius Torres Freire que economistas do Banco Safra reduziram sua estimativa de crescimento do PIB para 2015 de alta de 0,3% para baixa de 0,5%, entre outros motivos, porque o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, reconheceu que o Estado passa por um racionamento de água.
O assombroso aqui não é que tenham modificado sua previsão, mas que tenham aguardado o governador se atrapalhar com as palavras e quem sabe talvez admitir que esteja faltando água para proceder à atualização. Alckmin se revelou, desde sempre, a fonte menos confiável de informações sobre a crise hídrica. Ouvi-lo nessa matéria faz tanto sentido quanto consultar Dilma sobre o setor elétrico, isto é, nenhum.
O problema de base aqui está na interação entre a democracia de massas e a arquitetura cerebral. Sabemos, desde Platão, que o regime democrático flerta com o populismo. O principal mandamento do político é não desagradar à população. Se o fizer, perderá a próxima eleição e, assim, deixará de ser político.
Essa faceta do sistema é tão acentuada que faz com que a própria percepção de realidade seja alterada. Isso significa que o político ou militante partidário que defende teses com pouco amparo na realidade, como a de que não faltaria água em São Paulo ou a de que o governo federal vinha aplicando uma política econômica virtuosa, não necessariamente é um mau caráter. A literatura traz um bom corpo de evidências empíricas a sugerir que as pessoas torcem tanto para que sua versão favorita do mundo se materialize que, em alguma medida, acabam confundindo seu desejo com a realidade.
O que diferencia políticos comuns de estadistas é que estes últimos não apenas veem as coisas de modo menos deformado pela subjetividade como enxergam para além do horizonte de dois mandatos eletivos. Estadistas vêm fazendo falta ao Brasil.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.