SÃO PAULO - A sensação que se tem ao ler os jornais é a de que o governo, empossado há apenas um mês, já derrete. Problemas brotam por todos os lados. A economia está mal e ainda vai piorar um pouco antes de melhorar. Para 2015, é razoável apostar em crescimento nulo (ou até uma pequena contração) salpicado por uma inflação ainda incômoda.
Para agravar as coisas, o ajuste passa não só pela redução de benefícios sociais que Dilma jurou que não cortaria como também pelo aumento de impostos e tarifas (outra promessa descumprida).
Esse, vale dizer, é o cenário otimista, que não leva em conta impactos mais dramáticos da falta de água e energia nos principais centros urbanos do país. Se a indústria e a agricultura forem muito afetadas, o quadro econômico pode piorar bastante.
Na política, a perspectiva é a de que a Câmara será chefiada por um desafeto da presidente que incentivará o Legislativo a mostrar sua face mais chantagista. Some-se a isso os desdobramentos do caso Petrobras e estão abertas as portas da incerteza.
Incógnitas também estão presentes no plano social. É verdade que as pessoas se acostumam com tudo, até com a vida num campo de concentração. A questão é que nem sempre aceitam seu destino passivamente. Será que em algum momento protestos integrarão a paisagem de 2015?
É difícil dizer. Ainda não existe a ciência da protestologia. A literatura internacional, porém, sugere que ondas de manifestações têm lugar não quando as pessoas simplesmente estão infelizes com um elemento de sua realidade mas sim quando há um grande descompasso entre o que esperam e o que lhes é entregue.
Se Dilma e demais governantes querem evitar uma frente extra de problemas, devem começar o quanto antes a ajustar as expectativas da população, preparando-a para o que realmente virá. Paradoxalmente, a transparência que tanto evitavam pode ser agora sua aliada.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.