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    Hélio Schwartsman

    Rumo ao insólito

    28/03/2015 02h00

    SÃO PAULO - Acidentes aéreos tendem a ficar cada vez mais insólitos, como o que vitimou o Airbus da Germanwings. A razão para essa tendência é que voar está cada vez mais seguro. À medida que os engenheiros encontram soluções para reduzir os desastres mais ordinários, como aqueles causados por falhas na aterrissagem, casos extraordinários vão se destacando na paisagem.

    Nos últimos 25 anos, ao menos cinco voos comerciais foram derrubados por um piloto com intenções suicidas, produzindo uma pilha de 548 cadáveres. Esses números pode chegar respectivamente a seis e 787, se considerarmos que o avião da Malaysia Airlines que desapareceu sem deixar traço em 2014 também foi abatido por um oficial desgovernado.

    O fato positivo a destacar aqui, porém, é que a aviação comercial se revelou um daqueles raros campos em que cientistas, empresários e agências de regulação conseguiram se entender para tornar a atividade mais segura. No início da era dos jatos, na virada dos anos 50 para os 60, registravam-se cerca de dez acidentes com mortes para cada milhão de voos; hoje, são 0,21.

    O principal motivo é a melhora na tecnologia, com destaque para a automação. Os pilotos não gostam muito, mas, quanto menos o ser humano interfere na operação, mais segura ela se torna. Investigações sérias dos acidentes aéreos que se converteram no redesenho de sistemas e em recomendações de segurança prontamente acatadas também ajudaram.

    O maior problema, hoje, são as confusões que inevitavelmente surgem na interface de máquinas que fazem cada vez mais e homens cada vez menos chamados a intervir. O mais provável é que o impasse acabe se resolvendo nas próximas décadas em favor de mais automação. Isso nos poupará das tragédias provocadas por pilotos suicidas, mas quase certamente nos levará a a novas classes de acidentes tão insólitos que hoje nem conseguimos imaginá-los.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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