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    Hélio Schwartsman

    A culpa é da entropia

    03/04/2015 02h00

    SÃO PAULO - Quanto poder têm os políticos? Num sentido muito geral, o governo faz toda a diferença. Prova-o o experimento natural das Coreias. O que distingue substancialmente o país encastelado ao norte do paralelo 38 daquele ao sul é o tipo de regime adotado, já que língua, população e geografia eram quase os mesmos nos anos 50. Já os resultados não poderiam ser mais diferentes. Enquanto o norte é uma das nações mais pobres e oprimidas do planeta, o sul se conta entre as mais prósperas e educadas.

    Podemos extrair daí que o que os físicos já sabem há tempos: é relativamente fácil destruir as coisas e bem mais difícil construí-las. Aqui, governantes fracassados em busca de um bode expiatório sempre podem pôr a culpa na entropia.

    Mas, descartados cenários de terra arrasada, quanto pode um político? Correndo o risco de parecer meio fatalista, creio que dirigentes têm bem menos força do que eles próprios julgam possuir. Tomemos o caso de Lula. Embora ele se considere o reinventor do Brasil, sua gestão deu certo porque ele teve o mérito de não estragar tudo com heterodoxias que não funcionam e porque surfou num extraordinário boom das commodities, que lhe permitiu distribuir dividendos por todos os setores da sociedade. Dilma vai se saindo mal porque, além de ter flertado com ideias econômicas dignas da Coreia do Norte, viu a festa das commodities murchar.

    O ponto central é que poucos dirigentes de países democráticos resistem à mudança nos ciclos econômicos. Obama só foi eleito porque a crise de 2008 estourou no colo de Bush.

    Neste mundo, em que governos já vêm com prazo de duração até a próxima crise, o que caracteriza um bom político? Penso que, além de não fazer grandes besteiras que promovam a entropia, cabe-lhes apostar em melhorias fundacionais que, embora não assegurem a reeleição, deixam algo para o país. Os sul-coreanos escolheram a educação. Deu certo.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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