SÃO PAULO - Jonathan Gottschall parece nutrir predileção por ser um estranho no ninho. É um professor de literatura inglesa que tenta levar um pouco de biologia, mais especificamente, de darwinismo, para seu campo de estudos. Obviamente, a novidade não é muito bem recebida por seus pares. Mais recentemente, ele resolveu tornar-se um lutador de MMA. Era o único intelectual, o único com mais de 35 anos e o único casado a treinar no ginásio.
Gottschall entrou no octógono e sobreviveu para escrever um livro. É "The Professor in the Cage" (o professor na gaiola), em que ele relata sua experiência, sem nos poupar dos detalhes sanguinolentos, e aproveita para nos fazer mergulhar no mundo dos duelos, lutas marciais, esportes coletivos e das torcidas. O autor não se restringe aos Homines sapientes. Suas incursões incluem grandes primatas e pequenas formigas.
Para não desmerecer a fama de determinista, Gottschall tenta mostrar que esportes são, pelo menos demograficamente, coisa de homens (e, quanto mais violento, mais masculino). Ele cita um estudo envolvendo 50 culturas diferentes que avaliou a participação de homens e mulheres em esportes: 80% das atividades eram exclusivamente masculinas; do total, homens participavam de 95% da modalidades e mulheres, de 20%.
Talvez mais polêmico, Gottschall sugere que os esportes, notadamente os de luta, mas também o simples ato de torcer por um time, mais ajudam a controlar a violência na sociedade do que a promovem. De novo, quem dá as cartas é a biologia. A natureza é pródiga em substituir combates potencialmente letais por enfrentamentos semirritualizados em que as partes têm oportunidade de medir forças. O mais fraco ganha porque pode pular fora ainda vivo, e o mais forte, porque leva o prêmio correndo riscos menores que num combate total. Nós, humanos, ao inventar esportes, só levamos essa competição quase controlada ao paroxismo.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.