SÃO PAULO - Não conheço a obra de Luiz Edson Fachin e não sei bem por que Dilma Rousseff o indicou para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Desconfio até de que ela o esteja usando como boi de piranha, isto é, designando um nome mais à esquerda para vê-lo rejeitado pelo Senado e depois dizer que a "direita reacionária" faz o que pode para sabotar seu governo.
Como disse, não tenho conhecimento de causa o bastante para distinguir entre as reais ideias de Fachin e aquelas apenas atribuídas a ele, mas penso que estão exagerando ao acusá-lo de defensor da poligamia. Ou melhor, para colocar a questão em termos mais provocativos, sustento que não há nada de errado com a poligamia, desde que todas as partes envolvidas estejam de acordo e o arranjo não produza ônus extraordinários à Previdência.
A analogia aqui é com os relacionamentos homossexuais. O que dois ou mais adultos fazem consensualmente entre quatro paredes é assunto exclusivo deles. Se depois houver desentendimento entre as partes, cabe ao Estado cuidar das consequências jurídicas, da mesma maneira que trataria uma dissolução de sociedade empresarial, mas não pregar etiquetas morais sancionando ou condenando comportamentos que não causem dano a terceiros.
Aceitar isso não implica de modo algum atacar a família nem esboroar os alicerces da sociedade. Todos aqueles que quiserem manter-se fiéis ao modelo monogâmico heterossexual tradicional, que, devido a uma combinação de fatores biológicos e culturais, serão a grande maioria, estão perfeitamente livres para fazê-lo.
Não nego que seja muito mais fácil promover o entendimento quando todos pensam da mesma forma, mas, se queremos viver de modo pacífico em sociedades complexas e multiculturais de vários milhões de habitantes, precisamos aceitar que outros possam legitimamente fazer até o que nos pareça indecente.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.