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    Hélio Schwartsman

    Um táxi para o futuro

    09/05/2015 02h00

    SÃO PAULO - Sempre que podem, patrões achatam o salário de seus empregados, com o objetivo de majorar seus lucros. Sempre que podem, trabalhadores se juntam em associações de classe que buscam controlar o acesso à profissão, de modo a manter a remuneração tão elevada quanto possível.

    Esses são aspectos da natureza humana contra os quais não adianta brigar muito. Daí não decorre que não existam remédios contra os efeitos deletérios dessas tendências. O mais efetivo é a concorrência. É mais fácil atuar sobre o "sempre que podem" do parágrafo acima do que sobre os apetites naturais do homem. E, havendo competição, isto é, outros empresários demandando mão de obra, o patrão não conseguirá explorar demais seus funcionários (pelo menos não os mais qualificados).

    De modo análogo, quanto mais livre for o acesso das pessoas aos ofícios, menor a chance de um grupo seleto de profissionais dominar o mercado. Em ambos os casos, a resultante tende a ser menores preços para bens e serviços, o que estimula a produtividade e beneficia o conjunto da sociedade, ainda que existam perdedores individuais.

    Essa longa introdução serve para balizar a discussão em torno do Uber, o aplicativo que substitui táxis por "caronas pagas", que entrou numa espécie de gangorra judicial, sendo ora proibido, ora liberado. A questão chave aqui é perguntar por que tivemos um dia a necessidade de licenciar táxis. E a resposta é simples. Nós o fizemos para tentar assegurar que os passageiros não seriam ludibriados no preço das corridas nem atendidos por sequestradores.

    Ora, se a tecnologia usada pelo Uber dá conta dos dois problemas, ficam superados os motivos que levaram o poder público a ter de regular o setor, e o melhor para a população (excluídos, óbvio, os taxistas) é que serviços como esse sejam não só liberados como estimulados, para que a concorrência faça sua mágica.

    hélio schwartsman

    É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
    Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.

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