SÃO PAULO - Mais uma vez, o mundo assiste a uma conjunção de crises migratórias, com focos na Ásia, na Europa e, em grau mínimo, no Brasil, às voltas com os haitianos. Mais uma vez, o mundo reage de modo irracional à chegada de imigrantes, preferindo organizar expedições militares para caçá-los a acolhê-los.
Economistas nunca entram em consenso, mas, se há algo que tende a colocar do mesmo lado um bom número deles independentemente de suas preferências ideológicas, é a ideia de que o comércio internacional e a imigração são bons para todas as partes. Trocas voluntárias de bens e serviços quase sempre são sinônimo de ganhos de eficiência.
De um modo geral, quando importo algo de um país, estou tendo acesso a uma tecnologia ou outra vantagem competitiva de que não disponho. No final das contas, eu aproveitei a maior produtividade do estrangeiro, o que significa que saí ganhando. Ele também, já que trocou sua expertise por dinheiro, com o qual poderá adquirir gêneros que necessita.
O que vale para produtos vale também para o trabalho. O sujeito que abandona uma zona de guerra e consegue um emprego, ainda que não muito bem remunerado, está claramente melhor. O mesmo vale para a pessoa que o contratou. Ela agora está liberada de certas tarefas e poderá desempenhar outras funções, que em tese sabe desempenhar melhor.
Comércio e trabalho são jogos de soma positiva. Curiosamente, pelo menos desde Adam Smith, esse é um conceito difícil de vender para o público, que por força de um poderoso viés antiestrangeiro, vê balanças comerciais negativas como exploração e imigrantes como ameaças.
Na verdade, a imigração é a solução para o planeta. Os países ricos entram com a sociedade estável e o governo funcional e em troca obtêm trabalho, dão sobrevida a seus sistemas previdenciários e ampliam as possibilidades de inovação, que é a fonte última da prosperidade.
É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.